EXPLORAÇÃO EMOCIONAL: Fruto de pura intuição parece-me que os atentados de Madrid são obra da Al Qaeda. Poder-se-á eventualmente descobrir uma cooperação da ETA ou alguém a ela ligado - afinal de contas o mercado negro de explosivos espanhol não deve ser assim tão grande e não estamos a falar de materiais que se comprem em supermercados. No entanto, tudo isto são suposições, que as recentes prisões de árabes não vieram clarificar totalmente. E que não serão esclarecidas a tempo das eleições de amanhã. Investigações deste tipo levam o seu tempo.
Entendo que estas dúvidas não terão qualquer efeito nas eleições. O povo espanhol acorrerá em massa às urnas e votará como pensava votar antes dos atentados. Eventualmente, os acontecimentos de anteontem farão diminuir a abstenção mas o impacto desse efeito no resultado eleitoral é algo que é impossível prever.
Numa escala menor, é certo, já tivemos um exemplo parecido em Portugal. Em 1980, Sá Carneiro e Amaro da Costa faleceram em circunstâncias estranhas a dois dias das eleições presidenciais. A emoção generalizada então gerada e a natural especulação sobre o acidente ou atentado não tiveram qualquer influência no desfecho eleitoral.
Estou convencido que as opiniões públicas de países com democracias maduras são muito menos manipuláveis do que alguns julgam. E nas horas decisivas a esmagadora maioria sabe distinguir o que é natural emoçáo colectiva do que é do domínio da decisão e convicção individual. Os efeitos do voto emocional anulam-se (haverá certamente algum voto eleitoral emocional, mas no caso espanhol parece-me que se distribuirá equitativamente).
Sei que há exemplos que contrariam esta minha opinião: na Holanda, por exemplo, o assassinato de Pim Fortuyn levou a um aumento da votação na sua lista. Mas não alterou o sentido dos resultados indicados pelas sondagens que davam (e foram confirmados pelas urnas) a vitória ao partido de direita moderada.
Em Espanha as sondagens davam, antes dos funestos eventos, clara vantagem ao PP que estaria à beira da maioria absoluta. Por isso se de facto houver um efeito emocional ele só poderá ser visível se os resultados forem muito diferentes destes. Ou seja, se o PSOE ganhar ou diminuir a vantagem do PP indicada nas sondagens. Ficamos assim a saber a quem convém o exacerbar deste clima emocional, com manifestações grotescas e hipócritas em dia de reflexão.
Estes lamentáveis desenvolvimentos baseiam-se num raciocínio que anda à solta por aí (na blogosfera e em grande parte da imprensa) e que indica que se o autor do atentado for a Al Qaeda o beneficiado será o PSOE e que se for a ETA isso garantirá a vitória do PP. Esta lógica (?), para lá de ser tudo menos inocente, é profundamente errada e passa completamente ao lado das questões fundamentais que o 11 de Março de Madrid nos coloca. Desse embuste trataremos no post seguinte.
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