GIBSON E MONTAIGNE: O Francisco José Viegas ( link para o Aviz na coluna ao lado por impossibilidade de o fazer directamente com o meu Mac), com a paciência e simapatia que o caracterizam responde a uma interpelação que lhe fiz: apreciar o filme de Gibson faz de alguém um ser suspeito ou apenas um ser de mau gosto cinematográfico? FJV, para meu descanso, vai pela segunda hipótese, mas diz também que o filme repete uma falácia, insinuante e maldosa, recheada de erros históricos.
Fui ver o filme ao cinema, coisa que não faço habitualmente, pois que tal como quando leio, gosto de escolher o ruído de fundo, movido pela curiosidade de saber o que teria justificado tanta celeuma. Saí desiludido, porque nem o suposto espectáculo do sofrimento me impressionou ( achei-o exclusivamente corporal, logo superficial), nem a alegada insinuação, falsa e maldosa, contra os judeus me pareceu trazer algo de novo. Há séculos que se repete que Jesus teria relações nebulosas com os zelotas, e que estas relações teriam perturbado de algum modo a estratégia de colaboração das autoridades judaicas com os romanos. No filme, aparece um Cristo patéticamente entregue pelos judeus aos romanos, por razões aparentemente fúteis ( ser um falso profeta, o que havia, então como hoje, aos pontapés). Confuso, portanto.
O povo judeu, como já aqui escrevi e me valeu basta chacota, sofre muito mais noutros terrenos ( quem quiser que vá aos finais do século XIX e leia a France juive, de Drumont, para perceber que jeito deu o nazismo para arcar solitário com o sentimento anti-semita moderno), para que este filme, menor, de resto, acrescente o que quer que seja a esse sofrimento. Mas nestes tempos ondulantes, tem razão o Francisco em recomendar Montaigne. Com gosto, ofereço-lhe esta, dos Ensaios, II,1: Flutuamos entre diversas opiniões: nada queremos livremente, nada absolutamente, nada constantemente.
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