NO FUTURE: Andei por aí a ver as reacções da direita blogosférica (os blogues que estão catalogados, na coluna do lado, como Bom Bordo), acompanhada, no caso, pelo JPH, ao assassinato de Yassin e não posso esconder que, apesar de tudo, fiquei surpreendido. Contudo, há gradações que seria injusto desconsiderar. Por ordem crescente:
A consciência dividida de Pedro Mexia, que, admitindo embora não haver nada pior do que ficar satisfeito com a morte de alguém, confessa que Yassin não deixa saudades (o teor do post, de uma genuinidade quase intimista e, por isso, assumidamente pessoal, é algo incongruente com o título, que nos remete para o cumprimento de uma justiça divina objectiva).
Depois, um grupo, que poderíamos denominar, por facilidade, os "sim, mas...", integra as consciências inquietas, tipo "desculpem, mas não posso condenar", ou "uma morte é sempre de lamentar, mas um terrorista é sempre um terrorista".
Um terceiro grupo, residente no Blasfémias,não sente qualquer comiseração por Yassin e preocupa-se apenas com as consequências políticas do acto.
Um último grupo escarnece do "velhinho na cadeira de rodas" ou apela ao realismo para nos convencer de que se trata de "uma boa notícia".
Fiquei surpreendido porque ainda acreditei na improbabilidade de que o atentado recente em Espanha tornasse mais humana a análise da violência. Porém, vistas as coisas assim, estes bloggers deixam a quilómetros de distância o governo israelita, que teve Yassin preso durante vários anos pelos crimes por que foi condenado, resolveu libertá-lo e demorou algum tempo a decidir assassiná-lo com mísseis. Todos dariam excelentes ministros de Sharon: foi tarde, demasiado tarde. Não quadram é com a Europa, ou a Europa com eles.
Mas a todos se pode perguntar: foi uma execução sumária em virtude dos crimes de terrorismo por que Yassin esteve preso e foi libertado ou de que era suspeito, ou um acto de guerra? No primeiro caso, trata-se de um acto infame; no segundo caso, deixa de ser legítimo falar em terrorismo: como escreve o Terras do Nunca, dois exércitos, cada qual usando dos meios ao seu alcance.
Enfim, o comentário que mais me surpreendeu foi o de FJV, que assenta a justificação do assassinato em duas ordens de razões: a suposta responsabilidade de Yassin em actos de terrorismo posteriores à sua libertação (pelos anteriores, Israel teve-o preso enquanto lhe aprouve) e o seu carácter intrinsecamente mau . Em relação à primeira, regista-se novamente o facto de se tratar de uma execução sumária, sem julgamento e, portanto, indigna; em relação à segunda, não foi certamente o facto de Yassin ter ordenado o fuzilamento sumário de civis palestinianos e os apedrejamentos de mulheres e homossexuais que motivou Sharon.`
Às vezes penso que, um dia, gostaria de dizer aos meus netos "foram tempos difíceis, aqueles do começo do século"; temo que não cheguemos lá. Ao tempo dos netos.
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