O HOMEM DO SACO: Quando eu era pequenino, era costume falar-se muito no homem do saco. O homem do saco era um ser que deambulava pelas cidades, com um enorme saco às costas, à procura de casas onde houvesse meninos que não comiam para os levar para um qualquer sítio obscuro e nunca concretizado, para lhes fazer horrores indescritíveis mas que também não eram individualizados. Ora eu não comia nada, era um pisco a comer (a sério, juro); todos os dias era um inferno para que eu comesse o que quer que fosse e era um martírio familiar fazer-me comer alguma coisa enquanto eu, qual resistente heróico, me mantinha sempre de boca fechada e barriga vazia (bons tempos...). Por isso, todos os dias, ao almoço e ao jantar, vinha à baila a ameaça de mandar chamar o homem do saco (a quem alguém já tinha visto a rondar a casa...), para que ele me obrigasse a comer ou me levasse lá para onde era e me fazer mil horrores.
De forma que aí até aos 5, talvez 6 anos, convivi apavorada e diariamente com o homem do saco, fui-me habituando a ele, fui imaginando como seria, fui-me familiarizando com ele, enfim, tornei-me íntimo. Posso talvez dizer - embora nunca o tivesse visto – que o conhecia bem. Do homem da moca é que nunca tinha ouvido falar.
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