A ONU: Outra que eu gosto muito é a questão da ONU. Segundo alguns, todo este problema dos terroristas de andarem por aí a colocar bombas e a matar gente à doida é porque os EUA atacaram o Iraque sem o apoio da ONU. Com o apoio da ONU ao ataque dos EUA ao Iraque, é evidente que já não haveria ataques terroristas (posto que, academicamente, nesse caso houvesse ainda terroristas, coisa que alguns doidos ainda admitem...). A ONU apoiava o ataque, estava tudo bem. Se a ONU apoiasse o ataque, este já era bom. Logo, o problema do terrorismo deve-se aos EUA e ao facto de terem atacado o Iraque sem o apoio da ONU. O terrorismo, enfim..., deve-se aos EUA, nação mais democrática do mundo. O mundo é injusto...
A questão começa a complicar-se quando pensamos que os EUA nunca atacaram ninguém sem terem sido atacados primeiro, e que estavam sossegadinhos quando uma chuva de aviões se desferiu sobre a sua população. Enrodilha-se o problema quando julgamos que a ONU é quem pode usufruir do poder de delinear a moral do mundo: será um ataque moralmente defensável se a ONU o aceitar (a ONU, recorde-se, onde têm assento desde os países mais bárbaros até aos mais democráticos); já não o será se a ONU o contrariar.
Acontece que a ONU não defende nem delimita a moral, sequer das guerras. Os países, dentro da ONU, defendem as suas posições por motivações políticas e económicas e nunca morais. O veto francês no CS não se deveu a qualquer questão moral de ser a guerra ao Iraque boa ou má, como à questão moral não se deveu a posição alemã ou russa contra a guerra ao Iraque: foi por causa de factores económicos e políticos que esses países tomaram a posição que tomaram (o que se evidenciou quando se acotovelaram para arranjar lugares à mesa...).
Pergunta-se: fossem diferentes os seus interesses políticos e económicos, seriam diferentes as qualificações atribuídas ao ataque dos EUA ao Iraque? As nossas posições políticas devem estar sujeitas às posições políticas e económicas da França, Alemanha e Rússia? A moral desses países deve ser a moral mundial? Os interesses económicos e políticos desses países definirão a moral das guerras? Por acaso não terão sido esses os países que nos últimos 200 anos tentaram conquistar o mundo? Talvez fosse importante pensar nisto.
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