PEDRO AFONSO, O TRIPLO: Nesse tempos, séculos XII-XIII, Toledo (talvez também Palermo) era a cidade. Pedro Afonso, (de Huesca, para alguns) por lá passou, foi um letrado judeu aragonês convertido ao cristianismo, mudando o seu nome para Petrus Alphonsus, em 1106, e dedicado ao estudo da língua, filosofia, ciência e literatura árabes. Pedro Afonso escreve o seu Disciplina Clericalis, adoptando a técnica árabe da narrativa entrelaçada, o conto-moldura: estes são apresentados sob a forma de reprimendas de um velho árabe ao seu filho, ignorante e insolente. A técnica sugere o adâb, significando preparação, festa, "maravilha", e o seu fim a educação cívica. O adâb é iniciático, o filho do árabe recebe do pai os ensinamentos, herda a arte e o sangue. A obra de Pedro Afonso obtém assinalável sucesso tanto,que chega a ir para Inglaterra a convite de Henrique X, ensinar astronomia. A cultura europeia medieval abre-se á influência do Levante, os arabismos passam a ser frequentes no cancioneiro hispânico, como nas cantigas de Santa Maria de Afonso X ou no Cancioneiro do poeta mouro de Córdova, Aben Cuzman. Há quem defenda, como Pinharanda, que a origem latina do verbo trovar não esconde a analogia com o árabe tárab-tórob, que era com que o albardão, al-bardan, espécie de segrel, divertia as cortes cristãs.
A história de Pedro Afonso nem sequer tem a importância intelectual da de Maimónides, ou o picante da de João de Sevilha, cuja lenda reza que nascido judeu vem a ser vizir de Sevilha para acabar por ajudar ás reconquistas cristãs. Mas sempre a apreciei por estar ligada à arte popular, á mistura anárquica, nesses tempos de tolerância, de religiões e de saberes cruzados.
O que foi já não é.
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