POLÍTICA E MTV: Escrevi recentemente um post em que afirmei que, para fins eleitorais, Cavaco Silva era um personagem datado. Desenvolvendo um pouco o raciocínio subjacente a esta afirmação, penso que ninguém negará que a televisão tem um poder decisivo quanto à avaliação popular da normal actividade política, tornando-se ainda mais evidente em época de eleições. No fundo, no que toca ao eleitorado (e não só) há dois tipos de realidade: a realidade física, "real" e a realidade virtual ou televisiva. Ambas contam para efeitos de determinação das opções de voto, mas, em minha opinião, a segunda domina a primeira.
A televisão é hoje o passatempo preferido (e em certos casos o único) da quase totalidade da população. E é um passatempo passivo: o espectador não interfere, limitando-se a receber o que lhe é transmitido. E, infelizmente, as recentes estatísticas sobre o estado da educação neste país não nos permitem acreditar que o espírito crítico esteja em franca expansão. Assim, para além do que sofrem na pele, as pessoas serão levadas a determinar a sua opção de voto pelo melhor desempenho no "reality show" em que se transformou a política, sendo que as eleições presidenciais não implicam a escolha de um governo mas apenas de uma pessoa. Um telejornal que corra mal pode dar cabo de meses de boas políticas. Em contrapartida, meses de más políticas podem não significar uma censura popular proporcional a esse mau desempenho: veja-se o caso de A. Guterres, que abandonou o executivo numa altura em que não era devidamente penalizado pelo eleitorado (a acreditar nas sondagens de então).
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