VITÓRIA DA DEMOCRACIA E NOVOS DESAFIOS: A vitória do PSOE foi uma vitória democrática e uma bonita manifestação das virtualidades dos mecanismos do nosso sistema. Diminuiu a taxa de abstenção, o que alegra todos os democratas e ganhou, muito legitimamente, quem obteve mais votos. Se foi uma vitória do terrorismo e do medo ou reforçará a esperança e a capacidade de resistência, com o tempo se verá.
Foi uma vitória surpreendente. Escrevi ontem aqui que achava que os atentados não mudariam o sentido geral do voto (está visto que não sirvo para comentador e autor de previsões). Enganei-me, menosprezei o ambiente emocional pós-atentado, que mobilizou mais 2 ou 3 milhões de eleitores que se iriam abster e terão na sua maioria votado no PSOE.
É um pouco espúrio tentar encontrar explicações na gestão da crise pós-atentado. Os resultados eleitorais dependem sempre de uma série de factores inseridos num contexto mais geral que terão eventualmente ampliado o efeito dos eventos dos últimos dois dias, mas que não retiram validade nem legitimidade aos resultados. Uma lição no entanto que todas as democracias devem tirar é que o que se passou em Espanha não foi bonito e não sossega o espírito dos que acreditam na democracia, nem do lado da suposta manipulação da informação por parte do Governo, nem do lado de quem convocou manifestações "espontâneas" para explorar emocionalmente esse clima de desconfiança. A ameaça que enfrentamos e pode pôr em causa o nosso modus vivendi democrático é demasiado séria para podermos mostrar estas fraquezas em frente dos nosso inimigos. Provavelmente, levaremos todos algum tempo até aprender a lidar com este novo tipo de pressão. Uma opinião pública europeia "amolecida" por mais de 50 anos de paz, garantida pelos americanos, terá necessariamente de se adaptar. Mas temos de o fazer urgentemente, porque os terroristas percebem notoriamente como lidar com as vulnerabilidades de sociedades democráticas.
Espero, para bem do Mundo, que não haja uma alteração súbita ou demasiado vincada da política espanhola em relação ao Iraque, porque isso certamente fragilizará a guerra global contra o terrorismo (o Iraque é hoje um dos palcos dessa guerra e essa batalha não pode ser perdida). Afinal de contas, esta foi uma das exigências dos terroristas e não era nada bom sinal começar um mandato, sob o clima de chantagem actual imposto por estes bárbaros assassinos, cedendo ás suas reivindicações.
Cá estaremos para seguir e comentar e assistir ao despertar de algumas mentes para os novos perigos do mundo, quando o 11 de Março se repetir em Paris, Berlim, Londres, Roma ou Lisboa e por essa Europa fora e EUA. Acho até que, independentemente dos resultados eleitorais que possam ocorrer durante o ano de 2004, a escalada terrorista reaproximará inexoravelmente EUA e Europa. Como muito bem e friamente coloca a questão o Liberdade de Expressão nestes 3 posts, a realidade não se compacede com falinhas mansas.
Quanto a Portugal (que é o que mais nos interessa) concordo totalmente com o que o Paulo Gorjão aqui escreveu.
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