A ANGÚSTIA DO GUARDA-REDES ANTES DO LIVRE DE 30 METROS: Só um realizador de cinema que não percebe nada de futebol é que poderia inventar a angústia do guarda-redes antes do penalty (actualização: corrige-me, com toda a razão, o amigo J. Pimentel Teixeira: o título foi inventado por P. Handke, que escreveu o livro; Wenders só realizou o filme homónimo). Antes do penalty a angústia é mínima: situação mais natural, "perfeitamente normal", para se sofrer um golo. Do ponto de vista do guarda-redes, a angústia só é menor quando quem faz o golo é um colega de equipa: há surpresa, há frustração, mas a angústia nem chega a nascer, havendo mesmo quem fale, nestes casos, do "grau zero" da angústia.
A angústia existe é nos livres directos a 30 ou 35 metros da baliza, com um punhado de defesas à frente a tapar metade do caminho. Aí, e nos cantos directos, torna-se difícil para o guarda-redes explicar o golo sofrido. Por isso mesmo, a angústia sobe para níveis muito altos, aumentando a perturbação do homem das redes - e, consequentemente, as possibilidades de fracasso. Em casos extremos de angústia, observaram-se comportamentos estranhos, que levam alguns guarda-redes a abdicar de agarrar ou socar a bola com as mãos, ou mesmo com os pés, e a procurar jogá-la com a cabeça, como se fossem pontas de lança a mergulhar para o golo.
Assim, os guarda-redes nesta situação não se devem deixar abater: tudo tem uma explicação.
PS: Dizem-me aqui do lado que não percebi o filme. Pode ser; mas este post era mesmo sobre futebol.
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