DA PALESTINA AO SUEZ: A criação pela força das armas ( embora sob o patrocínio da ONU), do estado de Israel, em 1948, baseada na História da diáspora e da shoa, embrulhou, por outros motivos, a retórica negocial por muitos e bons anos. Sob a inspiração de Nasser, que queria a todo custo escapar às amarras do pacto de Bagdad, a proposta negocial feita a Israel, em nome da nação árabe, envolveu os negociantes num double bind: os países árabes queriam de volta boa parte dos territórios conquistados em 1948 por Israel, sem assegurar a paz nas fronteiras, Israel queria a paz sem oferecer território, na fórmula feliz de Kissinger. Pelo meio, a questão do canal do Suez. Americanos e ingleses, J.F. Dulles e A. Eden, quedam-se na estratégia soviética, que pela mão de Shepilov vai ao Cairo oferecer ajuda financeira a Nasser, e acabam por empurrar este para os braços dos russos. A 26 de Julho de 1956, Nasser explica em Alexandria a uma multidão excitada porque vai nacionalizar o canal:
This, O citizens, is the battle in which we are now involved. Its a battle against imperialism and the methods and tactics of imperialism, and a battle against Israel, the vanguard of imperialism.
Mas mais interessante:
Arab nationalism progresses. Arab nationalism triumphs. Arab nationalism marches forward; it knows its strenght. Arab nationalism knows who are its enemies and who are its friends.
Atenas nada devia a Corcira, mas os corcireus acabaram por envolver os atenienses na guerra do Peloponeso. O seu putativo papel num equílibrio de forças contra a aliança espartana e seus aliados corintíos, de Tucídides a Kagan, parece ter sido um factor essencial na decisão ateniense. Os EUA nada deviam a Israel ( na fria lógica da geopolítica), mas o seu papel num contrabalanço ao namoro soviético ao nacionalismo árabe, pode ter estimulado decisivamente a aliança israelito-americana.
Soroush é ocientalmente muito interessante, quando assume a condição frágil e predadora do homem (baseado em textos do Corão e em poemas de Rumi e de Hafez), apostando assim num Estado que accione a liberdade e a justiça como virtudes independentes: única forma de sustentar um governo baseado no equílibrio das diversas tendências humanas. Para Soroush, a secularização do Islão, ainda que especial, é essencial para promover estes valores. Mas, por muito sedutora e merecedora da ajuda ocidental que a proposta de Soroush seja, o passado recente na região, da Palestina ao Suez, parece erguer-se como uma parede. Uma parede feita com tijolos sobrados da velha geopolítica da Guerra Fria, que impedirá, talvez ainda por muitos anos, que os muçulmanos ouçam o bom Soroush.
PS:Ao assalto israelita de 29 de Outubro de 1956 sobre o Sinai, seguiu-se uma cínica política anglo-francesa, na prática forçando o Egipto a abrir mão do canal, enquanto apelava à retirada das tropas israelitas. Os EUA demarcaram-se do eixo anglo-francês, e Lippmann disse na altura que não desejou a intervenção europeia, mas que uma vez lançada, também não desejava o seu inêxito. Os EUA ainda apostavam na doutrina Eisenhower: dinheiro, assistência, desenvolvimento aos países livres, separação absoluta das tendências coloniais europeias. Depois da aventura do Suez, franceses e ingleses entregaram aos americanos a responsabilidade da defesa ocidental ante o simpático urso soviético. Quando estalou a Coreia, e depois o Vietnam, mandaram dizer aos americanos que se lembrassem do Suez.
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