A DIFERENÇA entre o que temos de fazer e aquilo que estamos dispostos a deixar fazer é a grande responsável pela onda de resultados negativos que os governos europeus têm obtido em eleições. Na Grécia, em Espanha e em França os partidos no poder foram castigados eleitoralmente. Independentemente de serem socialistas ou de direita, de terem apoiado a guerra do Iraque ou não. Porque o problema que enfrentamos tem raízes mais fundas.
A evolução demográfica da Europa e a sua capacidade limitada de crescimento económico são uma mistura explosiva. Há dias foi publicado um estudo da Standard & Poor's que revelava que se não se efectuarem sérias reformas na estrutura da despesa pública (ou seja no Estado-Social), o défice orçamental e a divida pública dos países europeus subirão para valores astronómicos e incomportáveis. Em Portugal, que tem uma evolução demográfica prevista com um envelhecimento acentuado e rápido e perspectivas de crescimento econámico timídas, a situação é ainda mais grave.
Quando estas questões são explicadas à população, a maioria concorda com a inevitabilidade de reformas estruturais nas nossas economias. Quando os seus direitos adquiridos são beliscados, ninguém esté disponível para ceder (o que é, aliás, uma reacção bem natural). Sendo muito claros, as economias europeias e sobretudo a portuguesa, precisam, de reformas liberalizadoras, por forma a permitir a redução de despesa pública e a sua concentração nos que realmente dela necessitam e aumentar a capacidade de crescimento econámico.
Isto é essencialmente um programa liberal, mesmo que por pruridos ideológicos não o queiramos referir. E é o programa que qualquer governo está condenado a tentar prosseguir.
Sabem-no os governos de direita e de esquerda. Os partidos de oposição conservadores e socialistas. Acontece que a maior parte dos partidos socialistas europeus, devido á composição social da sua base de apoio, á permeabilidade ás pressões de sindicatos (e nalguns casos nossos conhecidos, sempre que estão no governo, ao deslumbramento embevecido com o patronato), não está em condições de liderar esta agenda de reformas. Um bom exemplo desta impossibilidade foi a retirada de Schroeder da liderança do SPD, numa desesperada tentativa de ter as mãos livres para efectuar reformas sem ter de ouvir permanentemente queixas de militantes enfurecidos.
Este cenário de fundo assusta. Significa que muito provavelmente entraremos num período de alternâncias aceleradas de poder que impedirão qualquer espécie de reformas de fundo. Numa altura em que a Europa sofre ameaças sérias à sua segurança.
É nestes momentos que se impõe dizer a verdade aos eleitores. Não efectuar falsas promessas, não insinuar meias verdades para obter benefícios eleitorais de curto prazo. Manter um rumo firme e reformista.
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