A JUSTIÇA E O TIMING DOS BANDIDOS: A propósito da recente detenção, por motivos de eventual corrupção, de figuras públicas do mundo do futebol (e, simultaneamente, do sub-mundo da política), há dois tipos de comentários que me fazem alguma confusão.
Por um lado, os que censuram o timing da investigação policial, que incide sobre o futebol justamente em vésperas do Euro. Este comentário é absurdo e ridículo. Levado ao extremo, a justiça deveria regular a sua agenda não de acordo com a ocorrência de crimes mas sim em função de eventos internacionais a decorrerem no país. Estranhamente, esta "gestão" da justiça não choca algumas almas mais pragmáticas. Provavelmente, foi graças a este tipo de politização da justiça (leia-se subjugação da justiça a interesses políticos, de que a "arquivadoria" foi baluarte durante 16 (?) anos) que Vale e Azevedo só foi acusado pelo MP quando deixou de ser dirigente do Benfica. Por exemplo.
Por outro lado, os que manifestam o seu espanto pelo facto do país estar atascado em corrupção. De facto, novidades só no Continente! Foi preciso deter algumas pessoas do futebol para chegar a essa conclusão, manifestando perplexidade como donzelas apalpadas? Em que planeta é que têm vivido? No mínimo dos mínimos, já terão ouvido falar em situações suspeitas no futebol, em histórias de subornos a funcionários das finanças e das câmaras municipais, na GNR do Algarve, nas "cunhas" que sempre dominaram 90% do mercado de trabalho nacional, em certos políticos que enriquecem rapidamente (alguns com sobrinhos na Suíça, outros que mandam faxes...), nas cartas de condução compradas, etc. De tudo isto, sempre se falou. A diferença reside no facto de, bem ou mal, haver processos a correr contra passarinhos e passarões e, por via disso, o reacender de uma centelha de esperança. De que a justiça seja uma realidade, para que possamos recuperar o nosso lugar entre as nações civilizadas.
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