O AREIAS E OUTROS CAMELOS: A minha formação profissional de base está ligada a esse fabuloso embuste que é a psicologia modernaça. Felizmente pude aprender psicologia a sério, com Séneca, Pascal, Nietzsche, Schopenhauer, Freud, entre outros. De qualquer forma, devido a essa e outras formações, sempre achei que o sistema, no futebol português não tem nada a ver com nomeações de árbitros, penalties ou expulsões. O sistema português reside na inteligência, no conhecimento, e no interesse, coisas que, como se sabe, são menos espectaculares que golos mal anulados ( como o de Romeu, em Guimarães, com o adversário no tapete) ou a defesa de certo guarda-redes fora de área ( com a sua equipa cansada e entalada).
Esse sistema não é conspirativo nem obscuro. Por um lado, assenta no perfeito conhecimento de todos os mecanismos de controlo da mecânica do espectáculo - onde vive fulano, de que clube é beltrano, com quem almoçou sicrano - coisas que periódicamente são trazidas à luz do dia: "sabemos de que o Sr. X esteve a almoçar anteontem com o delegado Y, cuja filha namora com com o sobrinho daquele". Resultado: os actores compreendem rápidamente que enquanto uns vigiam o que eles fazem no rectângulo, outros sabem até qual a praia brasileira que preferem. Passam a pensar duas vezes antes de afrontar gente tão meticulosa.
Por outro lado, o interesse, corporizado em rendas pagas religiosamente, permite às organizações menores, que só lateralmente competem com os arquitectos do sistema, receber a horas certas. Por isso, o defesa esquerdo Areias, que tem sido o melhor jogador do Beira-Mar esta temporada, e que está de malas feitas para o adversário de hoje do seu actual clube, por uma original opção técnica, não alinhará esta noite. Limpinho, sem espinhas nem bossas.
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