O MELHOR BUSH: A conferência de Imprensa de ontem de George W. Bush foi uma excelente oportunidade para o Presidente americano tentar alterar uma tendência, que desde Janeiro se vem manifestando, de queda da sua popularidade.
E ontem Bush esteve no seu melhor. Fazendo uso das características que lhe granjearam popularidade. O que os americanos apreciam em George W. é a imagem de franqueza e a linguagem directa sem rodeios (e que, diga-se, passa muitas vezes por falta de articulação e sofisticação). Os eleitores americanos apreciam a sensação que transmite de estarmos perante um homem comum. No entanto, esta linguagem directa e brusca pode transmitir com frequência uma imagem de arrogância. Ontem, Bush conseguiu acrescentar-lhe um rosto humano. Voltou a ser o George W. Bush com que, a fazer fé nas sondagens, os americanos gostariam de passar um tempo a beber uma cerveja.
Surgiu um Presidente determinado, portador de um projecto de libertação e democratização do mundo árabe - "Temos uma oportunidade de ouro de melhorar o mundo". Consciente dos sacríficios necessários, mas partilhando com as famílias americanas a dor da perda dos seus familiares. Totalmente concentrado e empenhado no combate aos extremistas islâmicos.
Bush conseguiu ainda passar uma imagem de quem está acima do debate político quotidiano. Respondendo a várias perguntas sobre se estaria disposto a pedir desculpas pelo 11 de Setembro (uma ideia bizarra, introduzida no debate público pela cacofonia mediático-política quotidiana gerada pelas sessões da Comissão de investigação do 11 de Setembro), Bush limitou-se a afirmar: "O responsável pelo 11 de Setembro é Osama Bin Laden". Bush contrariou assim, clara e decisivamente, um clima intelectual perverso e de auto-flagelação, que se instalou nas últimas semanas, a propósito das investigações das falhas dos serviços de informações no 11 de Setembro em plena campanha eleitoral. Um clima que é um exemplo típico da lapidar constatação de Jean-François Revel que a civilização ocidental é a primeira na história que, após ter sido atacada, se auto-culpabiliza e pede desculpa.
Se Bush quer ganhar as eleições deve comportar-se até Novembro no registo de ontem. O de um homem que é a antítese do político slick, esse espécime com muitos talentos oratórios mas useiro e vezeiro em truques de linguagem e exclusivamente guiado por sondagens e pelo império da imagem. Por muito que isso custe a alguns europeus e aos admiradores da sofisticação e truques em política, a força de Bush, aos olhos dos eleitores americanos, está na sua autenticidade (what you see is what you get).
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