O VINTE E CINCO DO QUATRO, HOJE (II): Chegados ao 25/4, atente-se no DN ao esclarecedor artigo de Vasco Pulido Valente, que retracta exactamente o que foi o 25/4: o problema profissional da questão dos oficiais milicianos (oh!... não era a liberdade?...), a vacuidade das soluções dos capitães de Abril, os disparates do Spínola, a tentativa brutal da extrema esquerda de criar um regime totalitário.
Reparem os mais novos: o 25/4 não trouxe a liberdade, foi apenas a queda do regime, por um lado, e a imbecil descolonização, por outro. Há quem se orgulhe da descolonização, até nas primeiras páginas dos jornais, mas percebe-se mal que quem tenha estado tantos anos a clamar por ela não tivesse, uma vez chamado a tratar dela, uma solução melhor do que a simples entrega, traindo todos os portugueses (os de cá e os de lá) e arruinando a economia de todos os países (para já não falar das guerras civis). Assim era fácil resolver o problema.
O 25/4 (VPV explica-o bem) provocou a queda de um regime que não era democrático nem completamente livre, mas a extrema esquerda logo tentou transformá-lo num regime mil vezes pior. Para a malta nova ter uma ideia da coisa, perceba-se que, no anterior regime, uma pessoa como, por exemplo, Mário Soares, fazia uma vida normal, como pessoa e profissional, até ser exilado (exílio de onde regressava autorizadamente por diversas vezes). No entanto, os seus familiares levavam aqui uma vida completamente normal, com os seus bens e interesses devidamente protegidos, e os seus filhos estudavam nas Universidades do Estado como quaisquer outros. No regime que o PCP procurou estabelecer após o 25/4, o exílio de Mário Soares não seria nos belíssimos Campos Elíseos mas antes na Sibéria, num excelente programa de reeducação. Martírio dos martírios, desgraça das desgraças: eu (acaso não tivesse sido ainda fuzilado), eu, pobre de mim, estaria hoje a gramar o paleio de Soares na Sibéria!... Ambos magrinhos!... Brrrr!...
Recuperando o fio à meada, aquilo que efectivamente nos deu a liberdade e a democracia foi o 25 de Novembro (para o qual, valha a verdade que tanto me dói, contribuiu Mário Soares mas, principalmente, Ramalho Eanes). Até aí tínhamos tido as ocupações selvagens da extrema esquerda, as pilhagens, as ocupações de terras, os golpes, as nacionalizações, enfim, toda aquela trapalhada própria da esquerda que, ao fim e ao cabo, o que quer é retirar os bens àqueles que os conquistaram e trabalharam por eles, para ser ela a gozar esses bens. Até aí tivemos a desgraça económica que – essa sim – nos atrasou dezenas de anos em pouco mais de ano e meio. É raro falar-se disso mas felizmente ainda há por aí um Vasco Pulido Valente que no DN esclarece a meninada.
E não é só VPV, valha a verdade. A Única, do Expresso, que ainda há pouco eu criticava, traz também excelentes artigos sobre a época. Convém que a criançada perceba que, a seguir ao 25/4 (e, portanto, supostamente em democracia) centenas de famílias que nunca fizeram mal a ninguém tiveram de fugir de Portugal, inúmeras crianças tiveram de mudar de vida, de colégio, de ambiente, de hábitos, só porque uns quantos malucos assinavam mandatos de detenção sem razão e em branco. A Única dá-nos ainda relatos das ocupações e do processo cooperativo que só nos fazem sorrir porque não os sofremos (e a Lino de Carvalho pelos capitalistas direitos de autor...).
Mas é com estes pequenos exemplos da imprensa recente, sumariamente referidos, que eu acho que daqui a uns tempos será possível retractar com rigor e exactidão o Antigo Regime e o 25 do quatro, de forma a que os jovens percebam correctamente o que realmente aconteceu. Terá de se passar esta corrente política e ideológica estranha que faz Soares caminhar hoje ao lado de Carvalhas e que escurece a realidade, para que os jovens tenham uma ideia correcta do que se passou e, acima de tudo, acreditem nela: houve um regime que a História do país mostrou ser necessário, que revitalizou o país, reequilibrou as finanças e a economia, que efectivamente não se baseava na democracia nem na liberdade total, que julgava dever manter a integridade do território que tinha recebido a todo o custo e que, ao lado disto, cometeu diversos erros e provavelmente perseguições injustas. Foi naturalmente derrubado, tentou-se por momentos realizar e criar um regime comunista, mil vezes pior que o anterior, e, felizmente, isso foi combatido e erradicado, permitindo-nos hoje uma vida deliciosa em liberdade e democracia. Mas só a 25 de Novembro de 75, pelo que os trinta anos de liberdade e de democracia só se comemoram daqui a uns tempos, como é natural.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.