O VINTE E CINCO DO QUATRO, HOJE: Passando os olhos, tardia e distraidamente pelos jornais do fim-de-semana passado, fico a pensar que talvez não estivesse completamente correcto quando, há uns meses atrás, escrevia que ainda não se podia falar naturalmente, com isenção e rigor, no Antigo Regime ou no 25/4. É bem certo que, sempre que se tenta, vem um vozeirão da estrema esquerda, gritos, manifestações e insultos como fuga à discussão séria (coisa que já não impressiona ninguém: a extrema esquerda só sabe reagir assim). É evidente que muitos continuam com umas ficções extraordinárias estilo bichas para o leite ou a do curioso editorial da Única, que nos pretende fazer crer que, no antigamente, notícias de inquéritos judiciais, públicos, a supostas influências nas arbitragens e outras teriam de nos ser transmitidas em código por causa da censura – haja juízo!
Mas numa altura em que tanto se fala de mostrar aos jovens o que foi o Antigo Regime e o 25/4, convém que sejamos credíveis e não digamos disparates. Para tanto, é preciso explicar a 2ª República com rigor, situando-a historicamente para que se percebam as virtudes e os erros próprios de cada regime, e ser verdadeiros quanto ao 25/4. A imprensa parece, finalmente, ajudar-nos.
Para a primeira questão, aconselho a leitura da entrevista do Historiador Joaquim Veríssimo Serrão, no Indy. Através dela os mais novos poderão compreender, por exemplo, que os milhares e milhares de presos políticos se resumiam a uns 150 (prontamente substituídos e até bastante incrementados no pós 25/4, mercê dos maravilhosos mandatos de detenção em branco e de outras coisas do género); poderão apreender que a longa noite sombria foi antes uma recuperação fantástica da situação agonizante das finanças em 1926, primeiro, a manutenção da paz num mundo em guerra, depois, e um crescimento fantástico da economia, mesmo com a guerra colonial, por fim (isto, claro, sempre sem democracia e sem liberdade total, bem entendido). Poderão os jovens também verificar que inúmeros benefícios sociais (13º mês, abono, subsídio por doença, casamento e de aleitação, habitação social) foram estranhamente criados ainda em tempo de ditadura, ... mas não me acrescento mais para não retirar o prazer de ler a aludida entrevista.
Para os mais incrédulos, nem de propósito: o JN publica uns livros de História de Portugal, bastante conceituados, e o deste Domingo refere-se exactamente ao Estado Novo. Poderão ver lá excertos de artigos de jornal da época para aferirem a censura (alguns são divertidíssimos, confesso); verão ainda enunciadas as conquistas económicas e sociais e a política de obras públicas, para desenvolvimento do país e das colónias. Compreenderão a política nacional face ao panorama internacional e verão que é difícil olhar para a década de sessenta com os olhos do séc. XXI: hoje, por exemplo, é naturalmente mais fácil criticar-se o colonialismo, política que era defendida e promovida pela própria Sociedade das Nações (e que só foi posta em causa pela ONU aquando da guerra fria, na década de 50, e por motivos evidentes, como é sabido). (cont.)
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