VOTO EM BRANCO: Em meados de 2003 publicámos vários posts sob o título "Cidadania", em que discorremos sobre as imperfeições da democracia e sobre a necessidade de aperfeiçoar o sistema. A crise na representatividade política dos eleitos perante os eleitores - que sustenta a irresponsabilidade política reinante - o não funcionamento da justiça - que promove a restante irresponsabilidade, numa sociedade sem regras e, dentro de pouco tempo, sem valores - e, consequentemente, o poder não tutelado (pela e apenas pela justiça, que não funciona) dos media, tudo isto concorre para um terreno bem fértil para abordagens extremamente perigosas de índole totalitária.
Exemplo disso mesmo são declarações como as de Saramago ou abordagens do tipo Bloco de Esquerda. O primeiro, não condena a democracia no intuito de a melhorar mas apenas com o fel e desencanto característicos dos nostálgicos do "saudoso" bloco de leste. O BE é ainda mais perigoso. Aproveitando o "buraco" da oposição socialista quanto a uma política de esquerda - chamo a atenção para a crónica de Manuel Alegre no Público de hoje - o BE ou, pelo menos as suas cúpulas (cfr. editorial do público de hoje, de JM Fernandes), é igualmente tributário do velho Pacto de Varsóvia, mas devidamente "travestido" para captar os desencantados do actual estado do sistema democrático. É um inconfessado projecto marxista-leninista com o marketing adequado para ser apetecível em sociedades livres. No entanto e como é óbvio, o seu sucesso passa exactamente pela não divulgação do seu projecto de poder. É um comboio apelativo para uma leda e aparentemente gratuita viagem em que os passageiros só descobrem o elevado preço a pagar se o comboio chegar ao seu destino.
De tudo isto, sobra o facto de existir uma crise no sistema democrático que urge atacar. E, como disse Mário Soares em resposta a Saramago, é preciso melhorar a democracia com mais democracia.
Atendendo aos indícios, é bom que os políticos se apercebam disto quanto antes.
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