COMO SE: O filme que circula na net, o filme do soldado americano a ser decapitado, tem exactamente o mesmo poder das fotografias da tortura dos presos iraquianos pelos (outros) soldados americanos: o poder de iludir. E o que o filme ilude, não pode deixar de ser, é a outra violência. Se tivéssemos visto o exacto momento da deflagração das bombas de Madrid, e o seu efeito em centenas de corpos, de braços, de fígados, pulmões, o derrame da massa encefálica, os uivos, o choro, essas imagens chocariam tanto ou mais do que a decapitação do soldado americano.
E é bom não esquecer, que quem tem direito a imagens - e ao cortejo de comentários e análises subsequentes - perdura na nossa memória. Por isso e só por isso, para desgosto de alguns, associei o debate sobre a tortura aos presos iraquianos ao não-debate, às não-imagens, aos não-filmes dos presos cubanos. E de muitos outros. Impossível esquecer a profecia de Nietzsche: com os jornais, o mundo tornar-se-á finalmente uma fábula.
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