LONGE DA VISTA, LONGE DO CORAÇÃO:: O meu post Americansky suscitou uma ou outra reacção, talvez valha a pena discutir um pouco. A tortura de presos iraquianos tem imagens e essas imagens correram mundo, e o Irreflexões (link directo só disponível na coluna ao lado), ao contrário do Tugir (idem) que pretendeu não perceber o post, diz e com razão, que o ideal é que uma tortura não substitua outra.
Aqui julgo que se aplica o conselho sobre a pobreza argumentativa dos telhados de vidro do nosso marujo PC, ou seja, pas question de dizer "vocês falam agora mas não falaram antes". Nada disso. O problema é outro. Um acto soez ou alguns actos soezes, praticados por uma dúzia de idiotas, ao arrepio do que é a prática comum de um exército ocidental ( hoje como na II Guerra) são uma coisa. Outra é a prática continuada, durante décadas, de tortura, sevícias, fuzilamentos, perseguições, por vários regimes no século passado e já neste. Pretender colocar no mesmo plano estas duas realidades, o famoso livrinho de F. Gil e P. Tunhas, chama-lhe má fé. Não me parece. Perigosamente, parece-me que já não é uma questão de fé, antes uma vontade racional e livre de viver num mundo irreal. E por isso muito mais temível.
Até porque não é possível deixar de apalpar a indignação, a cólera dos justos dos que olham para estas imagens. Esta cólera excede em muito a simples apreciação política ou filosófica. Parece uma indignação sentida, exacerbada por meia-dúzia de fotografias de desgraçados acorrentados e com sacos de plástico enfiados na cabeça. É portanto, um sentimento humano. Pergunto-me se este bom povo encolerizado necessita sempre de uma imagem, de um filme, de uma fotografia, para experimentar a cólera e a compaixão. Recordo-me bem de massacres indizíveis, já no século das imagens-que-não-existem, não terem alterado o horário do passeio matinal, a milhões de almas sensíveis. Primo Levi também se interrogava sobre o assunto.
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