NO PASA NADA: O Expresso dá-nos hoje conta da aprovação de um texto de repúdio dos participantes do Fórum Iberoamericano pelas contínuas agressões e perseguições a jornalistas perpetradas pelo Presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Estas agressões, assassínios, prisões, decorrem em força desde finais de 2002, e como se sabe, têm sido muito comentadas nas redacções dos principais media portugueses. Reportagens sobre o tema, fotografias, depoimentos, são o menu do dia na TSF, na SIC-Notícias, no Público. Talvez por isso este diário não faça hoje uma única referência ao assunto. Mas há quem faça.
A Human Rights Watch registou no ano de 2002 e início de 2003 130 agressões a jornalistas na Venezuela. De Janeiro a Março de 2002, Chávez interrompeu 60 vezes as emissões regulares de TV e fez aprovar no final desse ano a Gag law, um lei da rolha segundo a qual é expressamente proíbido criticá-lo. Quando os jornalistas repudiaram a lei, Chávez respondeu:" são como os traficantes de droga que se opõem às leis anti-droga ou como os criminosos que se queixam do reforço da luta contra o crime".
Já a Reporters sans Frontiéres tem publicado inumeros casos pessoais e detalhados. Em Dezembro de 2002, oito jornalistas foram selváticamente atacados por jagunços de Chávez em Barquisineto, entre outros, José Rodriguez, do El Impulso, e Clara Reverol, da Televen. Fernando Malavé, do Diário 2001 foi baleado nesse mesmo mês, qundo fazia a cobertura de uma manifestação hostil a Chávez. Em 2003, as coisas continuaram, dois exemplos: A 10 de Janeiro, Juan Acosta Rodriguez da Telecaribe e apresentador de um popular programa - "Más allá de la noticia - foi preso e espancado pela polícia em Nueva Esparta. Em Novembro do mesmo ano, Miguel Otero, dono do El Nacional, foi atacado no metro de Caracas quando guiava um grupo de jornalistas estrangeiros que cobria a actividade da oposição a Chávez.
Félipe Gonzalez e António Guterres, justiça lhes seja feita, são alguns dos subscritores do texto de repúdio pela barbárie de Chávez. Muitos do que estão calados sobre isto, só acordam para a Venezuela quando se trata de denunciar o apetite americano ( verdadeiro, diga-se) pelo petróleo. O resto não lhes interessa, a Venezuela não é uma democracia, sendo natural tudo o que lá aconteça...
Cito as pérolas de JMF no Terras do Nunca: "Condeno, repito, todos esses actos, mas, mais que condenar esses actos, condeno o que permite esses actos - ou seja, a existência de regimes autoritários, sejam eles de que cor forem. Outra coisa, bem diferente, são esses mesmos actos cometidos em democracia, por governos democráticos. (..) É por isso que me incomoda mais a morte de inocentes às mãos do governo democrático de Israel do que às mãos dos terroristas palestinianos. É por isso que, em suma, há coisas que me indignam mais que outras. Porque gostava que o nosso lado, o lado da democracia, não tivesse tantos telhados de vidro." A Venezuela deve cair na categoria das que indignam menos.
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