O "MOURINHO" DA ENOLOGIA: Já bebi todos os seus vinhos, do Marquês de Borba ao Vila Santa, passando pelo interessantíssimo e ribatejano Conde de Vimioso. Falo de João Portugal Ramos, que, soube através do Público ( o melhor jornal português em matéria de crítica vínicola), foi distinguido este ano pelo Finantial Times via Jancis Robinson ( que muito tem feito pelo vinho português em Inglaterra), como um dos 25 melhores enólogos europeus. Já este ano JPR tinha ganho na Alemanha o prémio de melhor enólogo estrangeiro de 2004, entregue pela Wein Gourmet.
Há outros consagrados, como Luís Pato e Francisco Soares Franco, ou um que conheci de raspão, na altura na Quinta da Lagoalva, Rui Reguinga, que está agora a dar poder aos vinhos da Quinta dos Roques, mas JPR tem características especiais. Já nem falo das histórias malandras, que se contam do tempo em que era mero segunda linha de muitas casas com as quais tinha avenças, histórias de inveja e traição. Falo da qualidade dos seus vinhos, sobretudo em dois aspectos. Primeiro, o mérito de fazer grandes vinhos em quantidades descomunais para a realidade portuguesa: uma coisa é encher 2000 garrafas de um extraordinário varietal de Touriga ou Baga, ou de uma deliciosa assemblage de Alicante com Trincadeira ( o chamado "vinho de garagem") outra é produzir 30000 ou 60000 garrafas de Vila Santa ou Conde de Vimioso. Depois, o preço: qualidade em troca de bom e justo dinheiro, torna feliz o bebedor e o produtor.
Isto da relação qualidade preço tem muito que se lhe diga, e no mundo do vinho nem se fala. Em Bordéus, as coisas entornaram devido à especulação idiota dos últimos 10 anos, Portugal tem de ter cuidado. O mercado nacional tem peso específico, e o perfil do consumidor português é algo esquizóide: despreza os brancos e o Vinho do Porto, não cuida do vinho do dia a dia, embora esgote por vezes colheitas caríssimas. Os restaurantes, os enólogos fartam-se de o dizer, têm responabilidades pesadas na matéria: na sua maioria tratam péssimamente os vinhos, as cartas, as temperaturas e os copos de serviço, e vendem o néctar a preços infames. Muitos potenciais consumidores de vinho de qualidade ficam convencidos que um vinho mau é bom porque é caro, um vinho mediano é para ocasiões especiais, e que um grande vinho é para milionários. A crítica especializada também não ajuda à festa: descobre tanto em zurrapas como em garrafas de eleição as mesmas qualidades: "notas de baunilha e frutos vermelhos" e outras que tais. Por isso, venham mais JPR's e outros como ele.
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