CANÍCULA II: Podia chamar a esta série de posts Diário de um sofredor de Verão. Um leitor anónimo comentou o Canícula sob o ângulo sexual: "o tipo da varanda (moi?) tem é inveja das moças de seios rijos que vê na varanda oposta, pois que a sua Laura há muito se deitou". Isto leva-me a outras invejas. Na canícula sai-se de casa pela fresca e já se topam ombros e dedinhos do pé à mostra, nas mulheres. É abjecto. Em Fevereiro podemos calcular os odores que tais partes exalam, mas lãs e fibra barata poupam o invejoso. Saramago, na sua frase mais acertada, disse um dia a quem lhe perguntou, Ah... a inveja; Se pudessemos falar da inveja, estavamos dias a fio aqui..
Mas umbigos e coxas também se desmoitam com o desvario do termómetro. Um autocarro por estes dias faz-me sentir Serpa Pinto no Mucusso, atormentado por febres. As carnes ficam luzidias e cobertas por uma fina camada de suor que vai secando. Quase que se raspa. A inveja é um pouco assim, só que não é necessário raspar muito. Eu que o diga.
Uma psicanalista famosa no meio, Melanie Klein, estudou muito a coisa, em Envie et Gratitude (na tradução francesa), um livrinho notável. A inveja seria um processo primário se comparado com o cíume, porque a inveja é anterior à triangulação, e além disso é um processo que visa esvaziar o objecto invejado das qualidades invejadas. Viso eu esvaziar a transeunte dos seus dedinhos dos pés ou das suas coxas suadas? Não me parece. Preferia esvaziar o Verão, submergi-lo num imenso autoclismo ( o sítio dos especialistas para demolhar o bacalhau) e fazer reaparecer o Outono.
Peço desculpa. Enganei-me. Pareceu-me snobismo parolo. Quequismo arrivista. Afinal, o caso é mais simples. Fobia das mocetonas. Saudades da lavanda dos mancebos. Quanto ao ciúme. Palpite errado. O cruzamento é aleatório. Motivado pelo repinicado da prosa burguesa.
Peço desculpa. Enganei-me. Pareceu-me snobismo parolo. Quequismo arrivista. Afinal, o caso é mais simples. Fobia das mocetonas. Saudades da lavanda dos mancebos. Quanto ao ciúme. Palpite errado. O cruzamento é aleatório. Motivado pelo repinicado da prosa burguesa.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.