Á ESPERA:Neste post, o sempre amável Paulo Gorjão pergunta porque não informei a blogosfera a propósito do discurso de John Kerry sobre política externa. A explicação e simples: não percebi qual a(s) ideia(s) forte(s) de Kerry para esta área e as alternativas que propõe à actual Administração. Como aliás, o Paulo também não, como se depreende desta sua tentativa de sistematizar o que não é sistematizável, ou seja, o atabalhoado discurso de Kerry sobre estes assuntos.
Numa primeira fase, ainda durante as primárias pareceu haver uma preocupação em encontrar um corpo teórico que enformasse a política externa democrata. De que o melhor resumo foi o ensaio de James Traub no New York Times, The things they Carry, (carece de asssinatura para se poder ler o artigo) sobre o nationalist liberalism, o que em termos anglo-saxónicos tem uma conotação bem diferente de outros movimentos com o mesmo nome do século 19. Esta doutrina, nascida dos sectores mais conservadores do Partido Democrata era uma tentativa de acomodar as elites-falcão com os militantes-pomba do partido, como se depreende das palavras de Traub:
Last spring, a group of] foreign-policy thinkers from the conservative side of the Democratic spectrum proposed a doctrine of ''nationalist liberalism,'' which would ''consciously accept the critical importance of power, including military power, in promoting American security, interests and values,'' as the neoconservatives had in the 1970's. But the doctrine would also recognize that America's great power ''will create resistance and resentment if it is exercised arrogantly and unilaterally, making it harder for the United States to achieve its goals.'' The authors laid out a ''generous and compelling vision of global society,'' which would include ''humanitarian intervention against genocidal violence; family planning; effective cooperation against global warming and other environmental scourges''; foreign aid; free trade; and large investments to combat AIDS.
All the major Democratic candidates could be considered nationalist liberals. And it's no surprise: since this is more or less the consensual view of the foreign-policy establishment, practically everybody the candidates have been consulting takes this view. With the very important exception of Iraq, the major candidates hold essentially the same views. Hawkishness or dovishness on Iraq thus does not correlate with some larger difference in worldview, as, for example, the left and right views on Vietnam once did.
Entretanto toda a preocupação em criar um corpo teórico congruente e ideológico foi afastada pela pressão da campanha. As opiniões de Kerry são agora fruto de conveniências eleitorais e corroboradas por gente tão diferente como Joseph Nye, teórico do soft power e Richard Holbrooke, um diplomata mais pragmático e com experiência operacional, pouco dado a especulações teóricas.
Esta evolução não aconteceu apenas a Kerry. George W. Bush foi forçado pelos acontecimentos dos últimos meses no Iraque a descer do Olimpo ideológico do neo-conservadorismo e das decisões com base ideológica (como a que definiu o número de tropas a utilizar na intervenção) e a adoptar o multilateralismo como método de actuação.
Estamos assim numa espécie de limbo, á espera de novos desenvolvimentos. Bush anunciou 6 discursos sobre o Iraque e política externa durante Junho, Kerry afirmou que faria 3 discursos sobre os mesmos temas. Não passam de estratagemas para ganhar tempo. E perceber melhor o que se vai passar depois de 30 de Junho. As primeiras semansa do mês de Junho são teoricamente favoráveis a Bush, com as comemorações nacionalistas e saudosistas do Mmeorial Day e do desembarque na Normandia. Mas este clima favorável pode ser alterado por uma eventual agudização da situação no Iraque ou a mera manutenção, por muitas semanas, da actual situação descontrolada.
Paira a ideia de que as eleições de Novembro serão decididas por coisas que ainda não aconteceram: a estabilização ou ão da situação no Iraque, um possível atentado terrorista em solo americano, a detenção ou não de Bin Laden, etc...
Provavelmente não poderia ser de outra forma. A realidade poucas vezes se conforma à mera condição de confirmadora de ideias ou ideologias. Impõe-se por si mesma.
Acredito, e o trecho de Traub que transcreveu parece ir nesse sentido, que a política externa da administração Kerry (caso obviamente ele seja eleito), será estrategicamente muito semelhante à de Bush, apenas variando o método, apostando numa faceta mais multilateral que unilateral. A pergunta é: Será possível?
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