IN MEMORIAM: Para muitos, ficará para sempre a imagem de Reagan como um dos mais talentosos oradores políticos que ouviram. Um homem com o bom humor que caracteriza os espíritos superiores e servia para aligeirar a sua imagem de duro. Segundo testemunho de muitos colaboradores de Reagan, este usava o seu charme e humor para muitas vezes desarmar adversários ou conduzir negociações.
Reagan foi o autor de muitos dos mais celebrados discursos de Presidentes americanos. Quem quiser conhecer o seu pensamento deve ler ou ouvir o discurso que fez em 1964, A Time for Choosing, de apoio a Barry Goldwater na convenção republicana, pouco depois de ter cortado com o Partido Democrata. Aí encontra o essencial da sua filosofia política, ainda em bruto, sem a polidez que o pragmatismo do exercício do Poder implica.
Muitos anos mais tarde, após a reforma do Partido Republicano, de um partido do nordeste, elitista, inspirado por Rockfeller e por manobristas como Nixon, num partido populista, Reagan esmagou Carter nas eleições de 80. O seu discurso de posse é outra peça de retórica muito interessante.
O seu declarado anticomunismo levou à confrontação com o Império soviético, que designou como The Evil Empire, mas permitiu-lhe mais tarde ter a autoridade política para fazer, em frente à Porta de Brandenburgo, um pungente apelo ao derrube do Muro de Berlim, no discurso em que famosamente apelou: "Mr. Gorbachov, tear down this wall".
A sua capacidade de comunicar emocionalmente com os americanos, que provavelmente aprendera nos seus tempos de actor, vinha ao cimo nos momentos de evocação histórica e glorificação histórica da generosidade da América, como neste discurso na comemoração dos 40 anos do Desembarque na Normandia. Ou em tempos de enorme comoção nacional, como na comunicação que dirigiu ao país, a seguir ao desastre com o vaivém Challenger.
Por último ficarão para a História as suas inúmeras respostas e máximas espitiruosas, como por exemplo "a Política é a segunda mais velha profissão do mundo. E quanto mais vou sabendo dela, mais semelhanças encontro com a primeira".
Este homem, nascido pobre, um exemplo do sonho americano, e que viveu quase todo o século XX, era conhecido pela sua alegria de viver, pelo seu optimismo e força. Que se revelou, quando em 1981 após o atentado que quase o matou terá dito a Nancy Reagan, quando acordou: "Honey, I forgot to duck". A Morte no entanto, como faz com todos, não se esqueceu dele.
Apesar de grandes qualidades que certamente tinha como pessoa e como presidente, não sei se poderemos perdoar a Reagan a maior corrida ao armamento de sempre numa época em que a guerra fria já estava a chegar ao fim, e os enormíssimos perigos que legou às gerações futuras. Apesar de andarmos todos esquecidos, o mundo ainda está cheio de armas nucleares e Reagan fez muito menos do que podia e devia ter feito pela não-proliferação. Esse continua a ser o verdadeiro perigo. Em àparte, a sua crença na astrologia e no creacionismo era confrangedora e diz muito da impreparação que este homem tinha em questões científicas, não obstante inegáveis qualidades humanas. Cumprimentos, David
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