A LER: O indispensável e selectivo Almocreve das Petas faz uma ligação e cita parte de uma notável entrevista de George Steiner. Aí se menciona essa espécie de torpor e cansaço que a Europa denota quando comparada com a América. É um tema que, a espaços, aqui já aflorámos e sobre o qual concordamos com as palavras de Steiner, particularmente acertadas a nível universitário, de investigação científico e até cultural (...el porvenir de las ciencias e del pensamiento esta en estos momentos en los Estados Unidos...).
Mas talvez por estar deste lado do Atlântico a parte da entrevista que mais me tocou foi esta:
No puedo imaginarme ni una hora de mi vida sin la riqueza de Europa, sin sus cafés, por ejemplo. Esos cafés que uno encuentra desde la costa atlántica -pienso en el de Pessoa en Lisboa, tan hermoso- hasta San Petersburgo, Odessa y Kiev. Moscú, en cambio, nunca tuvo cafés, pero Moscú es ya el principio de Asia, la inmensa Asia. Los cafés de este tipo tampoco existen en Estados Unidos ni en Inglaterra. Mantener ese diálogo de felicidad y de angustia, de ironía y trabajo, es algo para mí fundamental que, de forma milagrosa, ha sobrevivido a dos guerras mundiales y al Holocausto. Sin duda, habría que elaborar una metafísica del café...
Volviendo a la pregunta inicial, me recuerda la frase de Saint-Just: "La felicidad es una idea nueva en Europa", frase pronunciada poco antes de morir en el cadalso. Hoy tengo un poco la impresión de vivir un epílogo semejante a los de Atenas y Jerusalén. Yo he escogido -con pasión- quedarme en Europa, pero la cuestión de irse es muy real para quienes tienen la oportunidad de hacerlo. ¿Qué porvenir tienen en Europa donde, en algunas de sus regiones, las divisiones son cada vez más duras y feroces?
É curioso como muitas vezes apenas nos queixamos do que não temos. Será a nostalgia, ou a portuguesa saudade, um indispensável cimento da nossa identidade ? Será necessário sair para descobrir e medirmos o quanto valemos e temos conquistado ? (sem glorificações tontas, nem pessimismo deslocados).
Partilho aqui um pormenor insignificante da minha vida quotidiana: muitas vezes circulo na América com um guarda-chuva com a bandeira da União Europeia, o que me faz sentir aqui pateticamente orgulhoso. Acho que se o fizesse em Lisboa, Paris ou Berlim me sentiria ridículo (isto como é óbvio pode ser só problema meu, a resolver na próxima ida ao psi, mas algo me diz que é uma atitude que seria adoptada por muito boa gente que conheço).
Estas questões aparentemente triviais abrem a porta a debates interessantes: é o anti-americanismo europeu (surge hoje de forma mais ou menos disseminada por toda a Europa) a primeira manifestação de um nacionalismo pan-europeu, como sustenta Timothy Garton Ash ? Como sabemos, todos os nacionalismos nascem da oposição ao outro (ao estrangeiro, ao judeu, à América). Deve a Europa construir-se contra a ideia de América ? Melhor ainda, pode a Europa construir-se contra a América ?
Espero e penso que a resposta a todas estas perguntas é não, mas este debate frontal e aberto terá de se fazer.
Bonito texto. Não concordo com a frase: "essa espécie de torpor e cansaço que a Europa denota quando comparada com a América". Como dizes é verdade (por enquanto) a nível das universidades, da investigação e das empresas (eu acrescento esta). Mas quanto ao resto acho que a Europa fervilha muito mais a todos os níveis. Sinceramente, do ponto de vista cultural, político e da cidadania quando vou aos EUA tenho a sensação que estou numa aldeia. Com o que há de positivo e negativo numa aldeia. As pessoas são muito simpáticas como numa aldeia, mas do ponto de vista cultural e político tenho a sensação de estar no deserto. Ok, vais-me dizer que há museus, livros e um ou dois canais de TV com algum nível. Mas isso é para menos de 5% dos cidadãos, o resto das pessoas parecem anestesiadas (deve ser daquelas lojas de auto-medicação). Depois mesmo a nível da qualidade de vida dos espaços urbanos e semi-urbanos já passei aí por buracos nos EUA que me fazem lembrar a miséria e a pasmaceira que havia nos países de leste há uns anos atrás (confirmado por pessoas do leste que me acompanhavam). Mas, apesar de tudo gosto muito dos EUA e dessa simpatia de aldeia das pessoas. Adoro paisagens soberbas que já percorri aí à aventura: o Vale da Morte, o Grande Canyon, o Crater Lake, as praias do Pacífico e aí onde moras, esse Outono colorido da Virginia, Maryland e Washington D.C.. Também tinha um chapéu de chuva como o teu andei com ele pela a Europa toda e garanto-te que é um dos chapéus que se vê mais por todo lado, sobretudo na Alemanha e na França. Talvez não veja em Portugal porque, as pessoas se calhar iriam pensar que era um chapéu do FC Porto!
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