O LEGADO: Uma das mais interessantes características da vida política de Reagan é a forma como foi capaz de desafiar o conhecimento convencional, o pensamento estabelecido, as inúmeras análises de especialistas e intelectuais que condicionavam a prática política e as escolhas económicas nos anos 70. Reagan tinha fundamentalmente uma convicção bem definida: desconfiava da capacidade dos governos em melhorar a vida dos cidadãos em geral e a economia em particular e, consequentemente, era um fervoroso adepto das baixas de impostos.
A sua ascensão ao poder significou o triunfo das teses de Hayek, Friedman e da escola de Chicago, do supply-side economics que sustentava que a melhor maneira de garantir crescimento económico era devolver dinheiro aos cidadãos, que na sua acção individual e egoística, encontrariam melhor destino para os seus fundos que o governo central. Estimular-se-ia assim o consumo e o investimento, contribuindo decisivamente para o cresimento da economia e a criação de novas empresas e empregos.
Os primeiros anos da sua Presidência assitiram a uma profunda recessão económica em 1982 e 1983, resultado de desequilíbrios económicos que vinham dos anos 70 e da sua terapia de choque. Mas rapidamente a economia americana recuperou entrando num período de crescimento económico até então inigualável.
A sua preocupação com a defesa, que implicava enormes gastos, conjugada com os cortes de impostos, levaram ao maior défice orçamental e aumento da dívida dos EUA, que acabaram por ser compensados mais tarde pelas receitas que um pujante crescimento económico gerou. Esta combinação gerou o conceito de reaganomics, tendo os americanos demorado mais de 10 anos para pagar o défice e a dívida.
A verdade, no entanto, é que a política económica de Reagan lançou as fundações do ressurgimento e reforma da economia americana, com o surgimento de milhares de novas empresas, fruto de um novo impulso à criatividade e iniciativa individuais (datam dos anos 80 a expansão e crescimento da Microsoft ou da Sun Microsystems, só para citar alguns monstros empresariais de hoje).
Noutras áreas o seu legado é mais controverso. O corte com programas sociais e a desinstitucionalização dos doentes mentais (que pode ser melhor explicado por outrém e era justificado oor Reagan por se ter limitado a seguir o conselho de psiquiatras), criaram, no início dos anos 80, uma legião de homeless nas cidades americanas. Graças, no entanto, ao dinamismo típico de uam sociedade capitalista que ele havia aprofundado, grande parte dessa chaga social havia desaparecido quando Reagan chegou ao final do mandato, após 4 anos de expansão económica.
Mas foi no campo das ideias que Reagan triunfou em toda a linha. A sua presidência significou um a mudança de paradigma, com a aceitação das teses de liberalização dos mercados na América e por todo o mundo e a diminuição do papel do Estado na economia, que tinha aumentado nos anos 50, 60 e 70.
Diz-se que as verdadeiras revoluções nunca foram feitas por intelectuais, mas por gente que tem duas ou três convicções fortes e as aplica. A política económica de Reagan foi, em certo sentido, verdadeiramente revolucionária e as suas ondas de choque correram mundo e ainda hoje têem forte influência na nossa vida. Mudou o pensamento sobre o papel do Estado na economia, à direita e à esquerda.
Ironicamente foi um seu adversário político, que havia conduzido o Partido Democrata de encontro a muitas teses de Reagan, quem decretou e reconheceu o seu triunfo. Quando em 1996, Bill Clinton proclamou, no seu discurso do Estado da União, "The era of big government is over", a revolução reaganiana havia sido institucionalizada.
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