"UM POUCO DE HINO, POR FAVOR"*:Com típica parcialidade, mas com o habitual humor que o caracteriza, o meu antigo mestre da faculdade de Coimbra, Vital Moreira, do Causa Nossa (blog de esquerda apenas disponível em link aí à direita, por já célebre incapacidade minha), discorda do que eu escrevi há dias e acha que a culpa de parte da população nacional não conhecer o nosso hino se deve antes à direita. Porquê? Porque tem sido a direita quem mais tempo tem estado no poder desde 1976 (louve-se desde já a data do início da contagem do período, não muito vulgar nestas paragens).
E como poder dominou o Ministério da Educação sem que se tivesse incluído na aprendizagem dos estudantes uma disciplina de educação cívica onde se estudassem os símbolos nacionais. Por quem vem o recado!... Vir a esquerda acusar a direita de não proteger os símbolos nacionais é realmente uma novidade para mim. Ainda por cima promovendo-se, para defesa dos símbolos nacionais, coisa tão complicada como a criação de uma disciplina específica (quando eu modestamente me bastava com o ensino do hino como antigamente, cantado de vez em quando nas escolas. Possivelmente nas aulas de música, às segundas e sextas. Ou só às segundas, da parte da tarde. Mas sempre na infância: se a gente ainda se lembra de "palram pega e papagaio...", de "batem leve, levemente..." ou mesmo de "atirei o pau ao gato...", será assim tão difícil à mocidade de hoje aprender a dizer, compreender e soletrar "egrégios avós" sem necessidade de uma disciplina específica?).
Percebi - relendo o post - que VM estaria apenas a dar largas ao seu conhecido sentido de humor e a meter-se comigo. Tal como eu, VM sabe bem que se alguma vez algum governo à direita do PS promovesse a criação de uma disciplina do tipo da que defendeu, a esquerda em bloco, o bloco de esquerda e o próprio VM cairiam em cima do governo com críticas de toda a ordem. Como aliás já fizeram quando há uns anos se falou em cantar o hino nas escolas, ou quando mais recentemente se defendeu a bandeira nacional nas escolas. Ou estarei enganado?
* O título deste post é apenas reconhecível pelas gerações que se deliciaram com António Silva, em Canção de Lisboa. Um filme da ditadura, portanto.
Gostaria de lembrar os magníficos tripulantes desta nau, e sobretudo VLX - pela suspeita que não serão menos idóneos que eu mesmo ? que nos primeiros e saudosos anos de escola, as aulas começavam sempre da mesma maneira. Os alunos entravam primeiro que a professora. Das pastas tiravam os seus livros, cadernos, lápis, apara-lápis, borracha, caneta de tinta permanente (nunca esferofráfica), sebenta, etc. etc.. Em seguida entrava a professora. Todos de pé davam os bons dias ? BOM DIA SENHORA PROFESSORA ? gritávamos a plenos pulmões. Por cima do quadro preto, sim na altura era efectivamente de ardósia, não uns verdes sintéticos que hoje em dia existem, imperavam três gravuras. Ao centro a imagem de Cristo crucificado, à direita a fotografia de António de Oliveira Salazar e à esquerda Américo Tomás. E o ritual seguia. Ainda de pé rezava-se uma Avé Maria, Um Pai Nosso e cantávamos o Hino Nacional. Sim o Hino Nacional. No dia 29/4/74, dia em que abriu de novo a escola, nada disso existia. A professora passou a entrar primeiro. Um a um os alunos passaram a entrar dando uns bons dias ?s?tora?, vociferando por entre os dentes palavras obscenas pela simples razão de esta não ter faltado. Só havia esferográficas, as borrachas tinham acabado. Não havia mais gravuras por cima da ardósia. Não mais orações, não mais o hino. Estávamos em liberdade... condicionada pelas conotações ao antigo regime. Ainda hoje a esquerda nutre sentimentos de repugna por um determinado numero de valores que teimosamente insiste em confundir com patriotismo e União Nacional.
Meu caro, repare que alguma esquerda vai perdendo os defeitos de que a acusamos. Promove até uma disciplina específica para nos recordarmos dos símbolos nacionais e os ensinarmos às camadas mais jovens. Não se perca, portanto, a esperança: um dia far-se-á certamente luz em toda a esquerda.
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