MAIS DÓ E COMISERAÇÃO: Quando muito se fala da decadência dos políticos, muitos se esquecem da decadência dos comentadores políticos. Até há bem pouco tempo, pelo menos os melhores conseguiam esconder os seus ódiozinhos pessoais e tentavam comentar de forma minimamente isenta. Claro que sabíamos todos que não estavam a comentar de forma completamente isenta e independente ou, no mínimo, desapaixonada. Mas os comentadores tentavam fazer-nos acreditar nisso e isso chegava-nos. Chamavam até a atenção para os seus gostos ou preferências para ilustrarem a sua independência no comentário.
Hoje não é assim: quando Mário Soares comenta, toda a gente sabe a cor da cruz que carrega; quando Freitas do Amaral opina, todos sabemos o que é que ele pretende verdadeiramente, mesmo que desta vez seja curiosamente apoiado pela família Soares (que na altura certa o apelidava de fascista e de outros mimos do género). E como estes há inúmeros.
O que me causa espanto é que comentadores que considero muito mais brilhantes (em todos os sentidos) do que aqueles que referi, exponham na televisão, sem qualquer contenção, todo o ódiozinho e ressentimento que sofrem. Que se dêem ao luxo de dizer que se fossem eles fariam de outra maneira, escolheriam de outra forma, decidiriam coisa diferente, quando nunca foram chamados a fazê-lo (e isso poderia, na verdade, ter acontecido). Custa-me, sinceramente, que uma pessoa, um jurista, um político, um comentador político, um comunicador que considero fantástico e fora do vulgar dê azo a que alguém pense que está melindrado e que se sente ultrapassado por todos aqueles que efectivamente passaram por ele, sejam eles Sampaio, Barroso, Lopes ou Portas. É triste, porque dá o ar de uma pessoa que está a esbracejar desesperadamente contra a corrente do Tejo e não merece tal coisa.
---------------- Esse ambiente tórrido é virtual. Publicado e não público. E você sendo jornalista deveria saber porquê.
Eu explico-lhe: Independentemente de concordar com o que aconteceu, houve uma certa hecatombe nas expectativas, quer à direita, quer à esquerda. Um autêntico terramoto, uma volta radical no poder ou no acesso ao poder, quer à esquerda, quer à direita, um volte-face inédito na nossa democracia.
E esta cambalhota totalmente inesperada apanhou muitos, mas mesmo muitos tacheiros de forma completamente desprevenida. Na imprensa, quer jornalistas, quer colunistas, muitos preparavam-se para os tachos quer para um cenário de esquerda no poder, quer para a direita que estava antes no poder.
Este volte-face tudo mudou, tudo minou. Conheço vários jornalistas que tinham acabado de ser nomeados acessores há muito pouco tempo. Conheço outros que aguardavam calmamente pela sua vez. E conheço uma monumental armada de todo o tipo de gente que subitamente "viu" uma fantástica luz perante a oportunidade de umas eleições antecipadas e duma eventual vitória duma das divisões do PS e de toda a legião de tacheiros que segue o cheiro da vitória.
Junte tudo isso, misture muito bem, e assim compreenderá esse tal ambiente tórrido e estado de desGraça do actual governo. Foi apenas uma extraordinária explosão de expectativas frustradas. Eu não tenho pena dessas legiões de seguidores do poder. E acho que você também não deve gostar muito de tais abutres.
Há de facto várias pessoas que subitamente foram acossadas por um espirito indisfarçavel de critica "combativa". Na SIC/SIC Notícias há pelo menos, que chega a chocar.
Quase sobre o mesmo assunto, escreveu ontem o Sarsfield Cabral no DN:
"E os jornais andam cheios de notícias e de opiniões claramente de encomenda, visando favorecer este ou aquele. Basta evocar casos tão diferentes como as coberturas mediáticas do processo Casa Pia, da venda de parte do capital da Galp ou da recente crise política. A independência é um bem escasso."
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