"SEM DENTES, SEM DENTES...": Os mais velhos recordam-se certamente daquela velha historieta que nos pretendia assustar e fazer ter juízo, a do rapazinho de bicicleta que gritava à mãe: "Olha mãe, sem uma mão!...", e depois: "olha mãe, sem duas mãos!..." (ao que a mãe, distraída, respondia sempre: "que giro, meu filho..."). A história acabava invariavelmente com a bicicleta desfeita e o miúdo sem dentes (variando o número), quando não mesmo com a cabeça partida e um braço ao peito (segundo percebi logo na infância, o final da história variava em função da bravura do rapaz a quem a mesma era contada).
Vem isto a propósito da mais recente brincadeira. De há três ou quatro anos para cá, apareceu e vulgarizou-se rapidamente a propriedade de pequenas trotinetes a motor. São um veículo realmente fantástico, agradável e prático, e a redução do seu preço tem levado à democratização das pequenas máquinas, ao ponto de hoje até podermos ver miúdos, criancinhas de dez anos ou menos a passearem-se nelas.
O problema não é esse. Não tenho nada contra o facto dos pais entenderem oferecer aos filhos trotinetes a motor (motorizadas, o que quiserem. É uma coisa que eu poderia fazer, e provavelmente farei um dia). O que me incomoda é que os paizinhos não ensinem as crianças a terem cuidado com os brinquedos que lhes são oferecidos, que não lhes digam para andarem nos passeios.
E o resultado é que rapazinhos de dez anos ou menos andam de trotinete a motor, não nos passeios, mas sim nas ruas, como se de motinhas se tratassem, sem terem a mais pequena noção dos perigos e das regras de trânsito.
Aqui há dias vi um miúdo, que seguramente não tinha mais de dez anos, a andar com uma máquina dessas na rua, numa rua perigosa e com um cruzamento complicado, e o rapazinho não morreu por pouco, desfeito por um veloz autocarro que lhe passou a centímetros. Convinha que os paizinhos pensassem nisto, já que nem sempre Deus põe a mão por baixo.
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