A BICLA (memórias de um sportsman em férias) X: Na verdade fui apanhado por coisa muito mais simples. Como sempre, nestas coisas a culpa é do mordomo. Na falta, da criada. Pois esta foi dizer que poderia ficar mais um pouco, o que possibilitou a triste ideia de se dizer às crianças "querem ir andar de bicicleta para o jardim enquanto o pai dá uma volta na bicicleta dele?..." Ia-me engasgando com o bocado de pão com chouriço que disfarçada e gulosamente já tinha na boca. Estupefacto, nenhuma desculpa me saía. Ainda ensaiei novo desmaio mas achei que era demais (aquela coisa dos "Médicos em Casa" é cara como o diabo!...).
Lá descemos à garagem. Foi então um espectáculo deplorável: não conseguia subir para a bicla, tive quase de a deitar para a poder montar e, mesmo assim, ossos e articulações estalavam por todo o lado. Caí duas vezes só a atravessar a garagem. Não conseguia andar a direito. Bati contra o carro do tipo do 1º andar. Um horror!
Essa coisa de que quem sabe andar de bicla nunca esquece é treta. Até o selim já nem me parecia assim tão bom. O facto de os pneus estarem vazios também não ajudava nada: como é que eu ia imaginar que os pneus não vinham cheios da loja? Se calhar foi isso que me deu cabo da mão. Que desastre! "O pai não sabe andar de bicicleta?", perguntava um, "O pai não sabe andar de bicicleta!", gozava o outro...
Ainda por cima, tudo isto aconteceu numa quarta-feira, com o outro anormalóide a mandar piadinhas estúpidas com risadinhas alarves: "quer ajuda?", "depois de tanto treino?", "talvez seja melhor montar umas rodinhas?" - e ria, ria, o palerma,enquanto aspirava o carro - "tente virá-la ao contrário" - e agarrava-se à barriga, limpava as lágrimas. Tomara lhe desse alguma coisa ali mesmo. Não só me vingava como acabava o tormento. Estive mesmo para lhe arrebentar as trombas, palermóide idiota!
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