A CONVENÇÃO: O Partido Democrata pretendia obter um impulso favorável nas sondagens nos dias e semanas pós-convenção. Para tal, coreografou uma reunião em que todos os pormenores foram pensados para transmitir uma imagem de unidade. O outro objectivo era o de mostrar o lado humano de Kerry, ainda desconhecido de muitos americanos e com uma imagem de snob, distante e frio. Veteranos, família e todo o melhor talento oratório democrata (de Bill Cinton a John Edwards) foi colocado ao serviço da "humanização" de Kerry.
Desconhece-se o efeito total nas sondagens (só daqui a uns dias será possível apurar o efeito da convenção). Mas parece consensual que um crescimento ns sondagens a la Bill Clinton, que teve um aumento nas intenões de voto depois da convenção democrata de 1992 entre 15 a 25 pontos, está fora de causa. A eleição de Novembro vai continuar a ser disputada taco a taco.
O discurso de Kerry foi muito bem recebido pelos media. Seja por inclinação natural ou puro interesse em elevar a barra para o discurso de Bush na Convenção republicana, este efeito já é uma vitória de Kerry. Pode, no entanto, revelar-se uma vitória de curto efeito e sem consequências de maior.
A intervenção de Kerry foi, a meu ver, muito defensiva. Ainda que disfarçando por vezes sob a capa de ataques aparentemente certeiros a Bush, Kerry pretendeu passar a ideia de que estava preparado para comandar um país em guerra. Mas fê-lo apontando sobretudo algumas inconsistências da Administração Bush. Não apresentou um plano, propostas de organização de segurança e militares (e o recente relatório da comissão de investigação do 11 de Setembro seria uma excelente fonte de inspiração).
Na área interna, de gestão da economia, a história repetiu-se. Muitas críticas, por vezes bem legítimas e fundamentadas, mas nem uma ideia, uma sugestão. Kerry perdeu aqui uma excelente oportunidade de ouro para tentar definir os parâmetros da discussão política até Novembro. E já agora de definitivamente se destacar de Bush nas sondagens, discutindo pela América o seu programa e não as suas divergências com o Presidente. Que diferença com o Bill Clinton de 1992, que se apresentou como o campeão das aspirações da classe média, elegendo a economia como o seu cavalo de batalha, condicionando toda a discussão posterior.
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