FOTOGRAFIA: Faleceu hoje um dos maiores fotógrafos do século XX, Henri Cartier-Bresson.
Tendo passado uma parte significativa da minha juventude em Coimbra, devo a descoberta da fotografia aos Encontros de Fotografia da mesma cidade. Foi nas suas inúmeras exposições que, nos cenários maravilhosos escolhidos para as acolher, aprendi a ver no registo de imagens uma forma de Arte. Que descobri, com entusiasmo juvenil, a enquadrar imagens, interpretá-las além da sua leitura mais imediata ou apenas a disfrutar e senti-las como manifestações estéticas. Foi graças aos seus programas, conferências e workshops que conheci Cartier-Bresson, Robert Frank, Joel Peter-Witkin, Alvarez Bravo, Sebastião Salgado, Jorge Molder, Paulo Nozolino e muitos outros, cujos nomes, certamente por deficiência de critério minha, não fixei.
Os Encontros de Fotografia de Coimbra são uma pessoa: o Albano da Silva Pereira (ele próprio autor de obra interessante). Sem o seu entusiasmo contagiante, empenho furioso, trabalho incansável e contactos nada daquilo poderia alguma vez ter sido montado. Acresce que os Encontros, superando obstáculos burocráticos, constrangimentos orçamentais e limitações várias muitas vezes fruto de tacanhez de espírito foram sempre uma realização muito à imagem do Albano, que é, para quem o conhece, um personagem larger than life. Numa cidade que, desde o 25 de Abril, foi progressivamente perdendo algum do lugar central que detinha no campo da cultura, que por vezes parece anquilosada e é especialmente auto-crítica e auto-destrutiva, os Encontros foram sempre um sopro de modernidade, de vanguardismo, de ousadia cultural, de ar fresco num ambiente por vezes demasiado tradicional (no mau sentido do termo). Eram uma pedrada no charco no ambiente de marasmo cultural reinante. Que arrastava milhares de pessoas a Coimbra e criou o gosto pela fotografia em muita gente da minha geração (eu confesso que, por manifesta falta de jeito, nunca passei da condição de apreciador mas sei de muita gente, outros lobos do mar e bloguistas incluídos, que se transformaram em fotógrafos amadores empenhados e talentosos)
Hoje, ao tomar conhecimento da morte de Cartier-Bresson, foi do Albano e da sua extraordinária obra e herança que me lembrei. Afinal de contas, foi o seu sonho e a sua perseverança que me permitiram ter hoje uma boa medida da importância de Cartier-Bresson e da perda que o seu desaparecimento significa. E isso, meus amigos, não é coisa pouca.
P.S. - Estando fora de Coimbra há muitos anos, e ultimamente fora do país, perdi um pouco o fio à meada. Algum dos estimados leitores me sabe fazer o ponto de situação dos "Encontros" ? Há alguma nova edição prevista ?
Pelos vistos os Encontros de Fotografia acabaram. Agora, vão sendo feitas exposições ao longo de todo o ano no novo espaço do Pátio da Inquisição organizadas pelas mesmas pessoas dos Encontros.
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