GUANTANAMO: Duas notas sobre o início do julgamento dos presos de Guantanamo. Em primeiro lugar, esta notícia do FT que dá conta do facto de alguns dos que recolheram informações que levaram à prisão dos detidos serem juízes do seu julgamento em tribunal militar. Como muitas vezes aqui afirmámos, a novela de Guantanamo em nada enobrece os Estados Unidos, o que tem sido consensual nesta nau. E só pode desiludir um pró-americano.
Em segundo lugar, outra notícia do FT sobre uma odisseia australiana. O nosso PC referiu-se ao detido australino David Hicks como "um caçador de cangurus". Nos comentários a esse post justificou a menção das profissões dos detidos para ilustrar que eles são "...pessoas como nós, de carne e osso..." (disto não temos qualquer dúvida). Acontece que, a medir pela versão do FT, o australiano foi preso no Afeganistão em boas companhias e na posse de uma AK-47 e granadas de mão, material que consabidamente faz parte do kit básico de qualquer caçador de cangurus moderno.
A indignação com o tratamento ilegal e desumano de detidos que desonra uma democracia ocidental, mas que apesar de tudo pode ser aí discutido abertamente e mitigado pelo sistema de checks and balances como a decisão sobre esta questão do Supremo Tribunal americano mostrou, não justifica a utilização de eufemismos mistificadores. Nem de linguagem dúbia e ardilosa que inverta a noção de quem no Afeganistão combatia do lado da Liberdade e da Democracia e de quem se encontrava (voluntaria ou involuntariamente, logo se apurará) ao serviço de um regime hediondo e de uma organização terrorista.
Por este critério de linguagem, porque não passarmos a utilizar correntemente a expressão "o empresário de construção civil saudita Osama Bin Laden" ?
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