INSÓNIAS NUMA NOITE DE VERÃO: Há já algum tempo que não contávamos com uma noite de insónias do nosso PC. Daquelas em que se passeia pelo convés desta nau, de bloco de apontamentos em punho, a inspecionar as opiniões dos outros. Mas nada melhor que a mansidão de uma noite de Verão para uma conversa serena.
A decisão do Presidente da República tem de ser aplaudida por quem aprecia a estabilidade política como um valor em si mesmo e acredita que o sistema deve ver acentuada a sua componente parlamentar. Essa era já a doutrina Sampaio, explícita em intervenções e escritos anteriores. Esta é uma evolução do sistema bem positiva. Quem, como eu, se lembra da acção lamentável de um Presidente (Eanes) que fazia e desfazia governos a seu bel-prazer, recusando solidariedade com quem nomeava e rejeitando soluções negociadas no quadro parlamentar, criando com este comportamento errático inúmeros custos para o país, só pode entender esta evolução como um sinal de maturidade do regime democrático, de saudável reforço da sua componente parlamentar e dos hábitos de estabilidade política.
Quanto ao processo de substituição do líder do PSD, deixei aqui a minha opinião. Não foi essa a opção escolhida pelo PSD, paciência - haverá outras oportunidades para retirar conclusões deste processo. Uma coisa é certa - a solução adoptada foi legítima à luz dos estatutos do Partido. Tinha consequências e perigos políticos para os quais apontei no mesmo post. De qualquer modo, o actual líder do PSD e Primeiro-Ministro tem toda a legitimidade formal e política para exercer esses cargos, o que não é o mesmo que dizer que a sua posição não tem fragilidades (estou aliás certo que o próprio, melhor que ninguém, tem consciência disso). O novo governo, como todos os outros, tem direito, pelo menos, ao benefício da dúvida (como o clima blogosférico anda, é melhor não falar em estado de graça ou noutros clichés usuais em situações similares, sob pena de sermos lapidarmente rotulados como santanistas ou quem sabe - ó ignomínia !- como santanetes).
Já agora, aproveito a oportunidade para pedir penhoradamente desculpa ao nosso sentinela do convés por não denotar um espírito particularmente exaltado. Por não remeter ninguém sumariamente como arguido para o tribunal da história (?!), como fez aqui o nosso PC com o Presidente da República, ainda antes da questão se colocar (e a solução ter sequer sido pensada, quanto mais anunciada). Um momento em que certamente mediu com sensatez as suas palavras.
Aquilo em que não alinho, e (já agora) deixei aqui escrito, é em discursos diabolizadores ou canonizadores de protagonistas políticos. Nesse trilho não me apanham. Por não apreciar especialmente a hiper-personalização da Política, não colaboro nela, pela positiva (idolatrando e publicitando) nem pela negativa (contribuindo para a vitimização alheia).
Como vê o nosso PC pelos links expostos, já havia por esta nau fora muita opinião minha sobre o momento que o país viveu no último mês. Depois fui à minha vida (que também a tenho, para além do blogue). Há, contudo, um ponto no qual concordo totalmente com o meu amigo PC: andam por aí muitos espíritos maliciosos e retorcidos. Daqueles que, quer se diga uma coisa ou escreva o contrário, ou até se opte pelo silêncio, estão sempre prontos a concluir argutamente: "é sintomático, altamente sintomático".
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