A PRIMEIRA NOITE da convenção republicana foi marcada pelos discursos de dois republicanos que têm, no imaginário colectivo americano, um estatuto de semi-heróis: Rudy Giuliani e John McCain.
Giuliani gastou parte do discurso a ilustrar algumas inconsistências de Kerry e invocou os momentos dramáticos dos dias pós-11 de Setembro para prender a assistência ao seu elogio e apoio incondicional a Bush. Foi um discurso emocionado, de um bom advogado da política externa de Bush, algo idealista e de alguém que está distante da maioria dos republicanos em algumas matérias domésticas. Com esta prestação, Giuliani garantiu um lugar na memória futura do partido, quem sabe se para uma candidatura a Presidente em 2008.
O momento mais interessante da noite foi quando McCain se referiu a Michael Moore como um "disingenuous filmmaker" (qualquer coisa como um realizador habilidoso/manhoso). Michael Moore tem estado sempre presente na sala, na bancada dos jornalistas. A referência de McCain provocou enorme agitação. A sala gritava four more years, respondendo Moore com um sinal de two more months.
Este curioso incidente serviu para ilustrar vivida e involuntariamente o enorme grau de tolerância política da sociedade americana. Praticada e vivida por todo o espectro político, mesmo por aqueles que são pintados pela notoriamente parcial imprensa europeia como perigosos e violentos intolerantes.
Uma lição, para quem está aberto a aprender. Para os que preferem o conforto das ideias feitas e pré-concebidas, apenas mais uma manifestação da hipocrisia e duplicidade típicas do capitalismo imperialista...
Que saudades! Desde que o Vítor Dias comentava os gloriosos congressos do PCUS que não via tanto entusiasmo! Faltam os velhos sorridentes, em amena discussão sobre os jardins, e as crianças na escola, alegres e livres, laudando o grande GWB, como na Bagdad de Colin Powell (ele não vai ao congresso, camarada?)
Caro Nuno, Visto da (Nova)Europa, o discurso de Giuliani é marcado pelo "elogio e apoio incondicional a Bush" e por algo que esteve sempre muito presente, mas que não referes, isto é, o contraponto entre as postura da América e da "Velha Europa" face ao terrorismo: "Louvado seja Deus por termos George W. Bush como Presidente...neste mundo muito, muito, muito perigoso!", foi a exclamação de Rudy Giuliani, que, ao atribuir a Bush o mérito histórico de atacar frontalmente o terrorismo, constitui um emblema do seu discurso. O antigo "Mayor" dirigiu uma crítica frontal e directa ao mundo ocidental por ter assumido uma política de compromisso e conformismo face ao terrorismo, nas últimas décadas, ao legitimar os grupos terroristas com sucessivos convites para entabular negociações (lembram-se da surpreendente sugestão para negociar com Bin Laden?). Giuliani fez uma analogia entre a situação actual e a postura do mundo ocidental antes da 2ª Guerra Mundial, de desvalorização da ameaça hitleriana. Na sequência desta crítica(ilustrada com a [na verdade incompreensível!] decisão das autoridades alemãs de soltar os três terroristas que sobreviveram ao sequestro e posterior massacre de 12 atletas olímpicos isralitas, na aldeia olímpica de Munique, em 1972), Giuliani agradeceu a Bush, por não permitir que os países europeus que ignoram a lição da história, com uma postura laxista face ao terrorismo,impossibilitem os EUA de se auto-defenderem. Cá estão, de forma transparente, os limites que os EUA põem ao Direito Internacional, quando se trata da defesa do território americano! Eis um discurso frontal e muito aplaudido, "coroado" com um claro exagero: a elevação de Bush a maior presidente da história dos EUA, e a sua comparação com Churchill e R. Reagan, como personalidades que na História enfrentaram diferentes formas de concretização do Mal!
Abraços do XMP (Logo à noite há mais. É hoje que discursa o "Terminator"?)
Caro Boxer, Parece-me que o meu amigo falhou o ponto. Estavam lá os velhos sorridentes e as crianças no jardim. Estavam por exemplo na bancada dos jornalistas, ao lado do Michael Moore, a contestar o unanimismo, dentro da sala, aos olhos de todos e com o respeito de todos. Comparar isto a um Congresso do PCUS é de quem anda todo baralhadinho. Saudações bloguistas
Há quem tenha saudades do Vítor Dias, e até mesmo dos camaradas do PCUS, tenho-os visto. Mas saudades do gulag? É a primeira vez que vejo. E o gulag terminou há 15 anos, ao contrário de Guantanamo (ah, pois é, os checks and balances e já não faz mal) e de Abu Grahb (pois, em democracia a tortura tem outro encanto, depois pede-se desculpa - era a chamada reabilitação). Não, de facto, entre o encanto que vi em muitos comunistas, que apregoavam o sol na terra, mas desmentiam o gulag e o deslumbramento dos que hoje se deliciam com os EU da A, e que não só não desmentem o gulag como até o querem justificar, quando não o defendem, não vejo especiais diferenças. Já agora, deixem-me adivinhar, quantos dos que hoje, e aqui, se maravilham com o mundo novo são, precisamente, os mesmos que há 15, 20 e 30 anos se deixavam hipnotizar com a U das RSS. É que não vejo mesmo diferenças nessas paixões. Noutros casos, pode, também, ser a saudade da guerra fria, mas esta acabou, já lá vão anos, e os velhos argumentos, assim, soam mal. Saudações O que é um «cão boxer»?
Ilustre Boxer, vejo pela interrogação final que o nome com que assina lhe advém de actividade combativa e não de raça canina. Pois aqui seguem duas esquivas aos seus dois ganchos certeiros:
1-Não vi neste post e nos sucessivos comentários qualquer "deslumbramento dos que hoje se deliciam com os EU da A, e que não só não desmentem o gulag como até o querem justificar, quando não o defendem". Contudo, há que fazer rectificações, que nem por isso são justificações. Guantanamo e o gulag são incomparáveis: em Guantanamo estão presos duas centenas de suspeitos de pertencer à Al-Qaeda, organização terrorista que tem como objectivo principal a destruição dos Estados Unidos da América e do mundo livre, tal como o conhecemos. Para definir o Gulag e recorrendo a pessoa bem informada, nada melhor que um dos títulos do "Relatório Secreto apresentado ao 20º Congresso do PCUS, em Fevereiro de 1956", por Nikita Krutschev: "DEPORTAÇÃO NÃO DE INDIVÍDUOS MAS DE POVOS INTEIROS". 2- O segundo gancho relativo à tentativa de justificação do GUANTANAMO não tem esquiva possível. Acerta em cheio, meu caro Boxer: Guantanamo é injustificável! E, no entanto, é possível explicá-lo (que não justificá-lo). As democracias ocidentais, surpreendidas com a extensão dos danos do terrorismo moderno, revelada pelo 11 de Setembro, AINDA não estão aptas a lidar com o terrorismo de larga escala com instrumentos que respeitem estritamente o Estado de Direito. É essa a maior perversão deste tipo de terrorismo. Obriga à perda de alguma liberdade, para que possamos ter TODA A LIBERDADE. 3- Quanto a Abu Grahib, li hoje que um dos soldados envolvidos enfrenta uma pena de 36 anos de prisão... Saudações bloguísticas Pastor Alemão
Afinal os congressos do PCUS, a julgar pelo XX não eram assim tão diferentes, ou, pelo menos, unanimistas e chatos. Talvez valha a pena saber um pouco mais, e consultar, por exemplo, a muita documentação e investigação acessível por via do magnífico trabalho de José Pacheco Pereira. A ideia de justificação não anda assim tão longe da doutrina que muitos comunistas adoptaram em relação à URSS, e à China, já agora, no passado, eram as «realidades concretas», e os «factores objectivos e subjectivos». O resultado foi aquele, e, apesar de ainda ser cedo para fazer história, séria e assente em factos, há uma evidência: acabou. O combate ao terrorismo não exige privação ou limitação da liberdade, ou, então, os terroristas venceram. E estão a vencer, de momento. Há presos da AlQaeda na Alemanha, em Espanha, em França, na Suécia, talvez até em Portugal, sem Guantanamo, e com Estado de Direito. Um soldado foi condenado? Não estou impressionado, pelo contrário, parece-me até um pouco ofensivo (lembra-me os julgamentos dos antigos praças das forças de segurança da RDA, enquanto os oficiais se reformavam, ou se integravam nas novas forças de segurança, e os dirigentes do SDP se integravam no SPD, na CDU e no FDP.
Afinal os congressos do PCUS, a julgar pelo XX não eram assim tão diferentes, ou, pelo menos, unanimistas e chatos. Talvez valha a pena saber um pouco mais, e consultar, por exemplo, a muita documentação e investigação acessível por via do magnífico trabalho de José Pacheco Pereira. A ideia de justificação não anda assim tão longe da doutrina que muitos comunistas adoptaram em relação à URSS, e à China, já agora, no passado, eram as «realidades concretas», e os «factores objectivos e subjectivos». O resultado foi aquele, e, apesar de ainda ser cedo para fazer história, séria e assente em factos, há uma evidência: acabou. O combate ao terrorismo não exige privação ou limitação da liberdade, ou, então, os terroristas venceram. E estão a vencer, de momento. Há presos da AlQaeda na Alemanha, em Espanha, em França, na Suécia, talvez até em Portugal, sem Guantanamo, e com Estado de Direito. Um soldado foi condenado? Não estou impressionado, pelo contrário, parece-me até um pouco ofensivo (lembra-me os julgamentos dos antigos praças das forças de segurança da RDA, enquanto os oficiais se reformavam, ou se integravam nas novas forças de segurança, e os dirigentes do SDP se integravam no SPD, na CDU e no FDP.
Serve o presente comentário para afirmar que sigo interessado este debate, onde já aprendi umas coisas. Só por isso já valeu escrever o post. Quis apenas dar conta do ambiente de tolerância que sei não ser possível em muitos sítios. A começar por Portugal onde apenas há pouco tempo alguns partidos enviam delegações aos conresso de outro (não tenho a certeza, mas acho por exemplo que o PCP e bloquistas não vão aos congressos do CDS e vice-versa por exemplo). Claro que um ambiente de tolerância assim me encanta e até deslumbra (não tenho medo da palavra. Num pequeno aparte refira-se que só os cínicos e os artificialmente blasés já perderam toda a capacidade de se deslumbrar. Eu, por mim, deslumbro-me várias vezes ao dia, em especial no Verão).
Já agora, um pouquinho de humildade não faria mal à intelectualidade europeia. Que se esquece que ainda Portugal não tinha democracia e o resto da Europa sucumbia a tentações totalitárias e a regimes sanguinários já os americanos (e para este efeito também os ingleses) tinham práticas democráticas há quase 150 anos ou 200 anos.
Questão diferente é Guantanamo a propósito da qual já aqui critiquei bastas vezes os americanos.
Mas criticar Guantanamo, e alertar para o facto de excessos desses nas nossas democracias serem já vitórias dos terroristas, não é o mesmo que efectuar uma equivalência entre o que não é sequer semelhante. Entre democracias que permitem debates como estes que estamos a ter, que estão abertas à crítica e a eventuais correcções, onde occorrem momentos como aquele a que assitimos ontem e regimes totalitários que puniam (e punem) qualquer dissensão em nome de uma igualdade mistificada ou da superioridade de uma raça. Saudações bloguistas.
Admiro todos os deslumbramentos. Incluindo os dos muitos comunistas que ao longo do século XX se manifestaram no mundo, independentemente do juízo que faço sobre os crimes cometidos. Devo-lhes, aos comunistas e aos sociais democratas, algum do bem estar, e também liberdade, de que gozo hoje, com os quais me sinto confortável na actual Europa. Seria desonesto da minha parte negá-lo. O meu problema com os deslumbramentos é que com estes se apagam os crimes. Por isso me manifesto receoso em relação ao idealismo que vejo hoje em tantos liberais, que, em defesa do seu projecto ideológico, procuram tudo justificar, tentanto, inclusive, alicerçar o seu programa político na ciência (à imagem do socialismo científico, vejo agora uma nova utopia, o capitalismo científico.) A minha questão não é a utopia, louvável, como todas as utopias, mas os seus defensores apaixonados, vulneráveis a tentações totalitárias. Foi assim, se calhar continuará a ser, que se cometeram tantos crimes ao longo da história.
Não há «bastas vezes» para condenar Guantanamo. Não pode haver. Só quando os responsáveis forem condenados, e quando nos livros ficar escrito que este foi mais um crime da história da humanidade.
Por vezes, o cinismo confunde-se com a ironia, se assim sucedeu, essa foi uma interpretação que não desejei.
Admiro todos os deslumbramentos. Incluindo os dos muitos comunistas que ao longo do século XX se manifestaram no mundo, independentemente do juízo que faço sobre os crimes cometidos. Devo-lhes, aos comunistas e aos sociais democratas, algum do bem estar, e também liberdade, de que gozo hoje, com os quais me sinto confortável na actual Europa. Seria desonesto da minha parte negá-lo. O meu problema com os deslumbramentos é que com estes se apagam os crimes. Por isso me manifesto receoso em relação ao idealismo que vejo hoje em tantos liberais, que, em defesa do seu projecto ideológico, procuram tudo justificar, tentanto, inclusive, alicerçar o seu programa político na ciência (à imagem do socialismo científico, vejo agora uma nova utopia, o capitalismo científico.) A minha questão não é a utopia, louvável, como todas as utopias, mas os seus defensores apaixonados, vulneráveis a tentações totalitárias. Foi assim, se calhar continuará a ser, que se cometeram tantos crimes ao longo da história.
Não há «bastas vezes» para condenar Guantanamo. Não pode haver. Só quando os responsáveis forem condenados, e quando nos livros ficar escrito que este foi mais um crime da história da humanidade.
Por vezes, o cinismo confunde-se com a ironia, se assim sucedeu, essa foi uma interpretação que não desejei.
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