ANTÓNIO BARRETO NO PÚBLICO: Enquanto os Sindicatos dos Professores produzem o costumeiro alarido sazonal (gostei daquela dos professores deverem ir para as escolas antes do início das aulas para conhecerem melhor os alunos. Existem muitos alunos nas escolas antes do início das aulas?...), António Barreto produziu dois dos melhores artigos sobre o ensino em Portugal (e a sociedade) que tenho lido, sob o sugestivo título: "A esquerda enganou-se". Não possuo, evidentemente, os dados e os estudos de que António Barreto se socorreu mas tenho a certeza de que quase tudo aquilo que ele escreveu é verdade, sinto-o. E há muito tempo.
Quem quiser pode ler os artigos no jornal Público de Domingo e de Segunda-feira.
Espera-se que os artigos não tenham acabado pois ainda falta muito dizer. Deixo aqui, à laia de sugestão, que opine sobre a porcaria dos textos que geralmente são postos nos livros da primária (acho que agora lhe chamam primeiro ciclo), cheios de imagens literárias ininteligíveis para crianças de 6, 7 ou 8 anos que deviam estar mas era a aprender o essencial e não a perguntar porque é que a velhinha do texto tinha algodão na cabeça...
Um outro capítulo podia ser dado às constantes alterações dos livros, que tanto sobrecarregam as finanças familiares. Para quem aprendeu de livros passados por três irmãos (que os tinham de poupar), é incompreensível que hoje, de um ano para o outro e para dois filhos seguidos, se tenha de comprar novos livros para os mesmos anos. Um subtítulo pode ser oferecido aos livros habilmente impingidos que promovem os exercícios nas próprias páginas: esses então terão necessariamente de se deitar fora por ficarem todos rabiscados (era realmente poupadinho, o hábito de se escreverem as perguntas no quadro para serem passadas para os cadernos e respondidas de seguida). Passamos a vida a discutir o custo de vida e as despesas que temos e não percebemos que é o próprio Estado a impingir-nos uma quantidade de despesas que eram absolutamente desnecessárias. Considero os textos de António Barreto sobre o assunto uma enorme e corajosa pedrada no charco - era bom que não se deixasse o pantanal acalmar outra vez.
Os textos de António Barreto são importantes, mas a verdade é que não tenho muita esperança de que o pãntano não fique como está. Antes de A. Barreto, já um bom número de intervenções sobre o assunto foram produzidas, quer a nível genérico quer incidindo sobre a especialidade de certas disciplinas. Mas o monstro burocrático (sindicatos, ministério, associações de profs) não sofreu nenhuma beliscadura visível. O que convém, claro, em particular, aos editores de "manuais"...
O problema do artigo do Barreto é que não se baseia em estudos, é feito a "olho" e quando é assim erra-se. E Barreto erra muito neste artigo porque não lê os estudos, e esses estudos dão-nos uma informação contrária às conclusões tiradas a "olho" por Barreto. É o normal deste tipo de artigos em Portugal. É sempre na base de que "dantes o ensino é que era bom, agora os alunos são todos uns burros". Enfim coisas que se dizem desde que a escola existe. Custa envelhecer e reconhecer que os putos de hoje com 8 anos já desmontam computadores enquanto no tempo do Barreto aos 16 anos os alunos tinham disciplinas de dactilografia (que poderiam ser dadas por putos de hoje com 10 anos) e desconheciam o que era a física quântica ou a astronomia para além dos planetas até à Universidade. Já para não falar que a geração de Barreto era um zero a falar línguas estrangeiras enquanto hoje qualquer puto com 10 anos já arranha pelo menos no inglês. O artigo de Barreto é o reflexo da desgraça que foi a nossa escola, é uma desgraça em si mesmo. Um país que tem apenas 21 % de pessoas com o secundário acabado quando os outros países da UE estão todos acima dos 40%, no leste acima dos 75 %, não se pode esperar muito deste tipo de artigos escritos com muita arrogância e sem fundamentação estatística. É o país que temos...
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