CIRCO SEM PÃO: No editorial do Público de hoje, José Manuel Fernandes ("JMF") tece algumas considerações sobre o desempenho de Santana Lopes ("PSL") como Primeiro-Ministro afirmando, entre outras coisas, que PSL "gere o Governo como um catavento" - graças ao seu discurso contraditório e ao sabor das circunstâncias - e que PSL necessita de dar uma notícia por dia.
De facto, a exemplo de Guterres, PSL sabe que, de um ponto de vista eleitoral, o que importa é "aparecer" e não "fazer" (ou não fazer...). O importante é aparecer diariamente nas televisões, com pose e tom adequados ao assunto discorrido, na perspectiva do destinatário: o telespectador/eleitor.
O preço a pagar são algumas contradições, que acabam por ser assinaladas por jornalistas como JMF. No entanto, PSL pode dar-se ao luxo de ser censurado por JMF e por aqueles milhares que o lêem ou que também fazem a mesma análise, uma vez que o seu bom desempenho televisivo diário terá acolhimento em centenas de milhar.
Como se combate um político como PSL? Eleitoralmente falando, com um lider de oposição que faça uma marcação "homem-a-homem", isto é, contrariando o seu discurso e apontando-lhe as suas falhas e contradições televisiva e diariamente (Durão Barroso, por exemplo, foi um mau lider da oposição). Aparentemente a encomenda já vem a caminho, com a réplica socialista de PSL.
No entanto, se aceitarmos que a realidade eleitoral será um espelho da realidade televisiva, nesse caso estaremos a aceitar que dificilmente os bons políticos poderão ter sucesso eleitoral sem que sejam igualmente bons actores e estrategas de marketing. Em contrapartida, também estaremos a aceitar que políticos maus possam ter sucesso eleitoral, desde que sejam bons actores e estrategas de marketing. Em suma, estaremos a aceitar o primado da embalagem sobre o conteúdo.
Que políticos maus podem ter sucesso eleitoral, não há dúvida. O Durão e o Santana ganharam eleições, não ganharam? E ainda falta saber porquê, principalmente o primeiro. Nunca conseguiu ver a luz do dia nas sondagens e como actor deixava à mostra as "costuras" do fato que vestia.
Que bons políticos podem perdê-las se não tiverem dotes de empatia com os eleitores, também é verdade. Se têm um recado a dar, é indispensável que saibam levar a carta a Garcia.
Agora do que discordo, caro Neptuno, é que se trate sempre de representação e marketing. Há políticos - bons e maus - assim como cientistas, artistas e outros, que são comunicadores espontâneos e isso é a mais das vezes o bastante para que a corrente se estabeleça.
São muito raros. Os outros, os tais, é que estudam sempre o papel com afinco, mas nem sempre com sucesso.
Acho que é o caso presente e que o PSL vai dar com os burrinhos na água.
O senhor jpt deve ter andado a dormir durante intermináveis sessões parlamentares em que DB não ganhou um só debate a Guterres. Como continuaria a não ganhar um único, nem ao fraquíssimo Ferro Rodrigues, senão fosse dar-se o caso de ter ao seu lado, enquanto primeiro ministro, o melhor parlamentar do PSD que é Marques Mendes... É preciso distinguir-se as coisas: foi uma péssiam oposição (sem garra, mal preparada, de discurso difícil, desinspirado e sem timming); esteve melhor como PM e melhorava claramente de debate para debate. É que se está a falar de fazer política e não de exercício de poder... são coisas diversas. O DB só não perdeu as eleições para o Ferro, porque a campanha acabou entretanto. Ficou a poucos pontos percentuais de distância (quase um empate técnico), mesmo de um PS de rastos e liderado por uma personalidade, no mínimo, tão apagada como a sua. Esta é que é a verdade. E eu sei-a porque me doeu no corpo, no terreno, em campanha. O DB é uma pessoa inteligente e competente, mas politicamente desinspirado. Não foi um bom líder e fez uma péssima campanha enquanto candidato. E mais, mesmo no plano interno, só dividiu o partido, eu estava lá e vi e ouvi directamente. Foi incrível a forma como ganhou o congresso de Viseu e foi impossível o que se passou na formação de algumas listas... Mas isso são contas de outro rosário. O PSL, por sua vez (e o Sócrates idem aspas) são mais mediáticos, inspirados, discursivamente evoluídos e naturais. Infelizmente são vazios de ideias, preguiçosos, manipuladores e populistas... Pobre país, o nosso... como diria o JPP.
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