CORREIO DOS LEITORES: Dado que o bote se vai embora (e admitindo-se academicamente que até só cá tenha vindo para o debate), que não se perca o momento e aproveite-se a altura para transcrever parte da mensagem enviada por um dos nossos leitores, abaixo identificado. Fica-se com a leve sensação de que o leitor em causa também não acha grande graça ao mau ambiente nas nossas águas naturais. Ou que as águas rebentem apenas quando devam naturalmente rebentar...
Exmos. Senhores,
Estou atónito. Imaginava eu um grande navio hospital (por causa das fabulosas condições...), modernamente dedicado à extinção da vida - não de uma forma ilegal mas no vazio legal das águas internacionais - e aparece-me ao largo da Figueira da Foz um bote ferrugento com umas quantas abortadeiras a gritarem, histéricas, pela intervenção das altas esferas da Eurocracia, secundadas pelas histéricas Portuguesas com assento em Bruxelas. É sempre a mesma coisa. Badala-se tanto por tão pouco e por coisas tão medíocres. O meu País vem-se dedicando nas últimas décadas a discutir exactamente a mediocridade. Estamos a pagar hoje os erros da última geração. A próxima pagará os da nossa. Com tanta coisa séria para se discutir, para se pensar e para se preparar para o futuro, entretemo-nos com o problema dos toiros de Barrancos (que há séculos que não representam qualquer problema) . E enquanto defendemos ferozmente a vida dos bovinos, temos algumas dúvidas acerca do direito de viver que deve ou não deve assistir a uma criança, pelo simples facto de ser demasiadamente pequena, por não estar cá fora, não ser visível, não se queixar. Somos tão medíocres que até para a tão propagada democracia que defendemos cansativamente desconhecemos o que significa verdadeiramente a palavra: mediocremente não sabemos o seu significado. O referendo foi feito a pedido da democracia e foi democraticamente decidido que o aborto continuaria a não ser permitido pelo simples desejo. Tenha ou não validade constitucional, aqueles que verdadeiramente se interessavam pelo assunto pronunciaram-se e ganharam as crianças! Mas os democratas não aceitam o resultado das suas próprias regras. Nem pensaram nas sequer consequências, tal como acontece aos medíocres. Salvo as devidas e merecidas excepções, impera a mediocridade dos dirigentes, das oposições, das instituições. Condecoram-se medíocres, libertam-se medíocres e, de uma forma muito medíocre, não entendemos sequer a razão pela qual Portugal está nesta situação medíocre, que os medíocres - evidentemente - ignoram, a banhos na Figueira da Foz. É assim o meu País.
António Furtado de Mendonça
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