DÉFICE DEMOCRÁTICO?: Manuel Alegre referiu-se a Sócrates como sendo o candidato à liderança do PS "...ungido pelo aparelho partidário." Com isto terá querido dizer que as eleições intra-partidárias são filtradas por um aparelho, que terá o poder de controlar o sentido de voto dos congressistas - que, por sua vez, representam x militantes filiados - de cujo voto irá depender a escolha do novo líder. Deste modo - e esta interpretação é da minha exclusiva responsabilidade - M. Alegre está a afirmar que as "cartas estão marcadas" e que a iminente eleição do secretário-geral do partido está dependente da inclinação de quem manda no dito aparelho (há-dem concordar que assim é...) . E que o sentido de voto dos congressistas votantes não será totalmente livre mas sim condicionado por eventuais favores, trocas ou reverências, recebidos ou esperados, do incontornável aparelho.
Esta situação também é espelhada na actual falência do sistema político existente, na relação de (falta de) representatividade entre eleitores e eleitos. Não só não há responsabilização (eleitoral) directa como há um completo desconhecimento dos eleitos, por parte dos eleitores. Porque aqueles também são escolhidos pelo famigerado aparelho. Sendo esta situação comum aos dois maiores partidos portugueses, os únicos que (até hoje) sempre estiveram no governo do país, podemos então avaliar o alcance do poder dos tenebrosos aparelhos partidários, quais Frankesteins que acabam por dominar o criador.
Embora seja triste que os políticos só se lembrem de criticar o aparelho partidário quando este não os apoia, percebe-se bem que assim seja. De facto, quando se ganha, é graças a, ou com o apoio do respectivo aparelho. Que também será decisivo para a manutenção do poder, pelo que dificilmente um qualquer político ganhará eleições intra-partidárias contra o aparelho ou propondo a sua transformação.
Quando um político não está no poder e é confrontado com um resultado adverso já "cozinhado" pelo aparelho, é natural que o questione - embora se resigne mais facilmente se dele já tiver beneficiado.
Quando um cidadão não filiado em partidos políticos se confronta com o poder de facto dos aparelhos partidários, só lhe resta esperar pela próxima revolução ou rezar pela chegada ao poder de alguém que perceba como é grave a crise da representatividade na política portuguesa.
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