DINHEIROS PÚBLICOS, OBRAS PÚBLICAS E OS PALHAÇOS QUE AS PAGAM: De ontem para hoje - e doravante para o futuro (como dizia o saudoso actor) - quem for do Porto para Matosinhos pela beira-mar deparar-se-á, ao chegar à rotunda de S. Salvador (também conhecida pela sua denominação mais vulgar "não é a do Castelo do Queijo, é a outra..."), com um punhado de estranhos e altíssimos postes que sustentam no ar, pendurada num equilíbrio aparentemente instável, uma enorme e impressionante roda de bicicleta!
Nada me move hoje - descanse desde já o leitor - contra os simpáticos velocípedes. Mas irrita-me que algures neste mundo esteja uma artista americana a brindar animada e continuadamente com amigos, soltando gargalhadas estridentes e repetindo para quem a queira ouvir: "palhaços!..." É particularmente chato porque os palhaços somos nós, todos nós, os contribuintes portugueses. De há uns anos para cá, os responsáveis políticos nortenhos brindaram-nos com um manancial de obras sumptuárias e desastrosas naquela pequena faixa de algumas centenas de metros entre aquelas ditas rotundas, obras que bradam aos céus e demonstram à saciedade a falta de critério e a facilidade com que se desbaratam os dinheiros públicos: foi construído um viaduto caríssimo (sobre terrenos aparentemente alheios) para que os utentes do Parque da Cidade pudessem aceder directamente ao mar. Excelente ideia mas um luxo que mereceria ter sido melhor pensado. Até porque enfiaram nele uns carris do eléctrico, que nunca lá passou nem se prevê que vá passar porque agora parece que vai haver um novo viaduto e quem lá passará é o metro. Depois porque o fantástico gabinete de engenharia que projectou aquilo - ou o empreiteiro que construiu a obra - não consegue que os paralelos da via se mantenham no lugar, estando sempre soltos e a provocar acidentes e furos, reduzindo as vias a apenas duas faixas e obrigando a que permanentemente lá estejam dois coitados a tentar repor os paralelos no sítio (em vão, diga-se).
Antes do referido viaduto, do lado do Porto, temos aquele magnífico parque de estacionamento da rotunda do Castelo do Queijo, que esteve fechado até agora por se inundar de água constantemente (mais valia terem feito ali a tão propalada marina...). Ao longo do viaduto, deparamo-nos com aquela enorme maluqueira do edifício transparente, que não serviu para nada além de satisfazer a carteira e o ego do arquitecto que nos impingiu o mamarracho. Não serviu nem serve porque a porcaria da obra está desenhada e feita de tal modo que é impossível sequer lavar os vidros da parte de fora (a não ser com andaimes, o que transforma a coisa economicamente inviável, tanto mais que está praticamente em cima do mar, o que obriga a lavagens constantes).
Só faltava mesmo a roda da bicicleta! A roda da bicicleta! Eu estava sinceramente convencido de que era humanamente impossível colocar naquela área reduzida de terreno mais qualquer coisa que demonstrasse a delapidação do dinheiro público com coisas inúteis mas enganei-me redondamente (ou quase: deve ter sido por não caberem ali mais imbecilidades que a roda da bicicleta teve de ficar suspensa no ar...). Também não previ nem acreditei - confesso - na extraordinária capacidade dos nossos responsáveis para torrar dinheiro dos contribuintes: eles sabem daquilo a potes! A potes de euros. Nossos, claro, dos palhaços.
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