LES BEAUX ESPRITS SE RENCONTRENT: O Prémio Nobel da Paz Arafat apelou aos raptores dos jornalistas franceses para que procedessem à imediata libertação dos reféns. É impressão minha ou quando as vítimas eram civis italianos, filipinos, sul-coreanos e nepaleses não se escutou a voz deste humanista ?
É impressão minha, ou os governos italiano, filipino, nepalês, etc., nunca se importaram demasiado com a sorte da população iraquiana perante a invasão americano-comandada? Esta súbita reacção alérgica à França, tão injusta como ignorante da história, merece reflexão mais aprofundada. Haverá aqui algum link com o facto de nunca termos visto os EUA apelar à moderação por parte dos tchechenos que executavam sumariamente soldados russos (imagens disponíveis na net)? E se sim: foi por causa da pobreza do argumento? Tantas perguntas, tão poucas respostas.
O argumento da ignorância da história é particularmente adequado porque toca no real problema da França de hoje: uma relação mitificada com a sua História. Com a hiper-valorização do papel da Revolução Francesa (quando outros já praticavam a democracia parlamentar) e o triste apagamento da discussão pública do colaboracioniso e da guerra da Argélia. Dessa história enterrada, sussurrada, nascem os Le Pens e a titubeância da França em assumir o seu papel ao lado dos seus aliados. Prefere-se acentuar um discurso bacoco sobre a putativa "grandeur de la France" e a sua excepcionalidade, justamente num tempo em que a sua influência política e cultural se vai esvaindo. É o reino do irrealismo. Pode ser que uma nova geração, menos complexada com os acontecimentos da história recente, inspirada por Sarkozy (à direita) ou Segoléne Royal (á esquerda), consiga superar esta esquizofrenia da afirmação de França no mundo actual. Por último, quero referir que não tenho nenhuma alergia à França. Antes pelo contrário. Vivi lá e adorei. Paris é juntamente com Nova Iorque uma das minhas cidades preferidas ( bem mais que Londres, por exemplo) e os franceses são bem estimáveis. Há hoje em França inúmeras coisas interessantes a acontecer desde a música electrónica onde por exemplo se manifesta muito do espírito universalista que, apesar de tuido, os franceses maioritariamente cultivam. Mas também sei que eu sou branco, caucasiano, não uso véu, estudava ( não limpava escadas) e domino suficientemente o idioma de Balzac para ser olhado de lado ou guetizado. Grande abraço. isto está ser um belo começo de Setembro bloguístico
Só mais uma coisa. Quanto a preocupações de governos estou certo que o meu caro amigo preferia o coração dilacerado do governo francês que, em troca de uns barris de petróleo, fingia não ver uma população reprimida e gazeada pelo seu próprio ditador. Bem diz o povo que quem está no comercio, não toma partido.
Já que estou coma mão na massa. A única coisa em comum entre estas actos horríficos, descritos no post anterior é a ideologia de morte que os suporta e que tomou abusivamente como refém uma nobre religião. Percebe-se, como ponto de partida, que a França, dada a população muçulmana que aí vive, lide com este problema com mais cautela que outros. Mas depois atiram-lhe (ao problema) com o jacobinismo mais empedernido, proibindo pessoas pacíficas e inocentes de se vestir de acordo com as suas tradições e cultura. No final, acabam atacados pelos mesmos fanáticos que não distinguem entre apoios a intervenções armadas ou oposições. O que eles pretendem atacar é a noção de democracia, de separação entre religião e política. Para tal, qualquer pretexto serve.
Quanto aos russos, faço notar que o meu amigo tem razão no silêncio dos EUA. Mas esse silêncio terminou depois do 11 de Setembro e os americanos têm sido muito vocais no apoio à política de Putin para a Tchechenia. Correspondendo aliás ao apoio que Putin passou a dar aos EUA. Porque o quadro geo-estratégico é outro. Não me canso de repetir: o 11 de Setembro mudou o quadro de alianças e as prioridades do mundo. Provou ao mundo, através de um ataque aos mais poderosos, que o mundo é hoje pequeno de mais para se poder admitir que 1,3 biliões de pessoas (as que professam a religião muçulmana) possam estar sujeitas apenas a duas alternativas: fanáticos religiosos ou ditadores sem escrúpulos. Raciocinar como se americanos e russos ainda fossem "inimigos que se estimam e vigiam" é no quadro de hoje errado em termos estratégicos. E já agora um pequeno aparte: se os americanos tivesssem arasado uma cidade, que diminuiu de 200000 habitantes para 40.000, como aconteceu em Grozny, o que iria para aí. Mas como a Rússia beneficia de um escrutínio mais favorável ao abrigo do double standard da imprensa ocidental, o silêncio é ensurdecedor (como gosta de dizer o Louçã). Mais um grande abraço transatlântico de quem está à espera de abrir aquela garrafa que falhámos em Agosto. No dia 18 de setembro, tratamos do assunto.
Diálogo entre o líder (L-"prémio nobel da paz") e o fanático (F): L-Têm de soltar os jornalistas franceses. Não os podem matar! F-Nós matamos todos os que se opõem à Lei absoluta! -Já degolámos americanos, italianos e muitos outros e nada nos disseste. Que diferença tem a nacionalidade? É uma vida que se opõe à lei absoluta, uma vida profana. Por acaso L defende vidas profanas? L-Não, não. É uma questão de estratégia: estas mortes não vos servem, a vocês e a nós. Os franceses, por agora, são nossos amigos. F-Eles opõem-se à Lei absoluta: não deixam as nossas filhas usar véus nas escolas deles. L-É verdade, é verdade, mas é um erro estratégico... F- A Lei absoluta conhece estratégias? -Não estará L a profanar? F retira-se e, pela primeira vez, pensa na necessidade de degolar L...
Diálogo entre o líder (L-"prémio nobel da paz") e o fanático (F): L-Têm de soltar os jornalistas franceses. Não os podem matar! F-Nós matamos todos os que se opõem à Lei absoluta! -Já degolámos americanos, italianos e muitos outros e nada nos disseste. Que diferença tem a nacionalidade? É uma vida que se opõe à lei absoluta, uma vida profana. Por acaso L defende vidas profanas? L-Não, não. É uma questão de estratégia: estas mortes não vos servem, a vocês e a nós. Os franceses, por agora, são nossos amigos. F-Eles opõem-se à Lei absoluta: não deixam as nossas filhas usar véus nas escolas deles. L-É verdade, é verdade, mas é um erro estratégico... F- A Lei absoluta conhece estratégias? -Não estará L a profanar? F retira-se e, pela primeira vez, pensa na necessidade de degolar L...
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