OS ESPERTOS E OS LORPAS II: A proverbial prática política portuguesa de contornar os problemas sem os tentar resolver, encarando-os de frente, acaba inevitavelmente por multiplicar esses problemas. É como tentar tentar "tapar buracos" orçamentais com sucessivos empréstimos, cada vez mais elevados e gravosos, até ao dia do crash.
É sabido que, ao nível da remuneração de base, a política não é susceptível de captar os melhores se olharmos para os salários dos ministros, secretários de estado e deputados, e para o que se paga no mercado. No entanto, uma vez que temos os salários mais baixos da UE, ninguém tem a coragem política de ficar "colado" a uma decisão que suba aqueles salários, antecipando uma terrível censura eleitoral. Assim, tenta-se camuflar a compensação pela dedicação à causa pública com a ocupação de cargos em organismos e empresas do estado. Cujos salários são dos mais altos da UE...
Para além da questionável (falta de) legitimidade das nomeações para os referidos cargos (na escolha dos "premiados"), dos montantes que são pagos com os impostos de todos e das competências que são sobrepostas em certas administrações (quando um administrador político é mais um peso morto a carregar pelo administrador competente ou mesmo um obstáculo), é também chocante a falta de frontalidade dos principais partidos no abordar deste assunto. Todos o conhecem mas, como ambos têm "rabos de palha" o melhor é não falar no assunto e camuflá-lo, prosseguindo de nomeação em nomeação.
Encarando o problema de frente, os cargos políticos devem ser bem remunerados, a níveis do sector privado (se pensarmos que as pessoas não se chocam com futebolistas que ganham mais de 25 mil contos por mês em Portugal...). Os titulares de cargos em organismos e empresas do estado também devem manter o seu nível de remuneração, mas terão que ser e apenas profissionais competentes, que prestem contas ao accionista (ou dono) estado, aliviando a carga daqueles que, por mera influência política, se alimentam nessa incontrolada manjedoura.
Caso se pretenda uma solução mitigada (mais típica deste país), o ideal será manter os níveis remuneratórios como estão e criar um senado com funções consultivas, para onde seriam encaminhados os ex-governantes que não tivessem vida privada para onde voltar, no final dos respectivos mandatos. Este senado seria efectivamente assumido como uma compensação, pagando uma verba que assegurasse uma existência condigna aos seus membros, sem loucuras, obviamente. A verba para este senado seria facilmente obtida com a extinção dos "marajás" nas empresas e organismos públicos, que passariam a ser regidos com critérios já não exclusivamente políticos mas sim de competência e de contenção de custos.
Parece-me que o Neptuno está a olhar a maré upside down: vê a força da corrente na espuma e não nas águas profundas. Os políticos ganham pouco? Talvez. Os privados ganham demais? Com certeza. E a população portuguesa, como fica no meio disto?
Convinha pegar nalgumas estatísticas europeias e verificar, comparativamente, as médias de rendimentos para cada grupo em apreço, cá e lá. Depois talvez concluísse que, se estivéssemos disciplinados pela mesma filosofia niveladora, talvez aqui fosse tão politicamente correcto e pacífico falar em aumentos de ministros como o é na Suécia, Dinamarca ou Finlândia. Who cares, desde que se viva bem e não haja disparidades a-éticas? Porque é que só se tomam de preocupações por quem não necessita de cuidados especiais?
Ninguém se importa com os ordenados dos futebolistas? Devemos viver em portugais diferentes, caro Neptuno. Eu vivo neste aqui, o do cantinho ocidental. E o Rei dos Mares?
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