AS VIDAS DELES: Ouço Carvalho da Silva uma vez mais, hoje na TSF. É um homem bom e sério. Talvez porque a ele nunca o ouvi endeusar os paraísos albaneses ou a ditadura do proletariado ( o que não significa que não o tenha feito) tenho esta opinião dele. Muitas coisas que diz fazem sentido, muitas sei que fazem sentido. Não percebo nada de economia, mas parte da minha consulta é generalista, digamos, e aí contacto com muitos dos que Carvalho da Silva defende. O efeitos da insegurança laboral, do salário baixo ou do desemprego na vida intíma das pessoas, esse conheço eu. Não são números ou análise política, não são apenas faixas pretas ou palavras de ordem. Falo das discussões violentas nas casas de telhados frágeis, das novidades prometidas aos filhos que têm de ser renegadas, do sexo que amolece. Do rancor que vem ao de cima, das coisas que de repente já não fazem sentido. Da tristeza de não poderem fazer planos, como se um cancro desaçaimado lhes tivesse comido o cartão multibanco.
Por isso me irrito levemente com a conversa que o trabalhador português é malandro, preguiçoso e relapso. Embora conceda que ao volante de um Mercedes e a caminho de uma ceia tardia no Bica do Sapato tudo pareça enfadonhamente dispensável.
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