HUMANO, DEMASIADO HUMANO: Cavaco, o tal que na sua primeira maioria autorizou coisas tão fascistas como auto-estradas e televisões privadas ( vão lá ver, ide aos registos da Assembleia da Républica da altura, ide e verificai o que diziam das TV's privadas arautos da liberdade de expressão como o Major Mário Tomé, ou Manuel Alegre), suportou discretamente uma campanha permanente e sem contraditório, feita pelo Independente ( nome que tal como na altura hoje provoca sorrisos) de Paulo Portas. Porquê? Porque havia dinheiro fresco e coisas nas quais gastá-lo, e porque um jornal lido no Chiado e discutido à noite no Frágil não é a mesma coisa que uma TV generalista.
O jogo mudou. Marcelo beneficia de efeitos conhecidos de há meio-século em Psicologia Social no campo da mudança de atitudes: o da "credibilidade da fonte " e o da "confiança da fonte". Básicamente, desde os trabalhos de Hovland&Weiss (1951), Montmollin (1982) ou Eagly, Wood & Chaikien ( 1978), sabemos com razoável segurança que uma fonte de persuasão é tanto mais fiável quanto lhe for reconhecida competência mas também desinteresse face ao resultado específico da sua comunicação para si mesma, ou para o grupo no qual está inserida. Por exemplo, um industrial que apareça a defender medidas de defesa do ambiente é duplamente fiável: primeiro porque sabe do que fala ( costuma poluir) e depois porque, aparentemente, nem estará a defender os interesses do grupo ou da classe a que pertence ( os malvados capitalistas).
Se a isto acrescentarmos o poder da simplificação da mensagem televisiva e a ausência de anti-corpos críticos na massa de indivíduos que julgavam receber um banho de cultura semanal do Prof. Marcelo, compreende-se o pânico do Governo. É humano.
temos um Goveno com uma legitimidade política para lá de duvidosa, um primeiro-ministro que foi promovido até ao grau máximo da sua incompetência e um Presidente da República que se limita a fanzir o sobrolho quando as coisas correm mal. Houve nos últimos meses uma "desgraduação" acentuada das instituições e dos protagonistas. E isso deve preocupar-nos a todos. Como as eleições legislativas ainda vêm longe (e não acredito que o PR dissolva o Parlamento - porque razão havia de o fazer agora?) resta-nos esperar que quem nos governa por obra do Divino Espírito Santo aprenda com os seus erros e que não piore as coisas. Que o PSD seja capaz de seregenerar e o PS de se assumir como alternativa credível. Para pior já basta assim. Mas suspeito que José Manuel Fernandes tem razão: ainda não batemos no fundo.
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