MEXICANIZAÇÃO: Se o PSD contem a própria "oposição ao PSD" ( Miguel Veiga, Pacheco, Marcelo) quem vai fazer oposição ao PSD? Quem criticar à "oposição ao PSD" estará ao lado do PSD, quem se opuser ao PSD estará ao lado de um PSD, o "da oposição".
A "mexicanização do PSD", Marques Mendes e o "Marcelogate"
Uma das coisas mais engraçadas deste triste "Marcelogate" foi ver Luís Marques Mendes arvorado em paladino da liberdade de imprensa. Como as coisas mudam. Na fase final do cavaquismo, Mendes tinha a fama (e se calhar o proveito - prefiro não fazer juízos de valor) de fazer o alinhamento do Telejornal. Hoje surge como um moderado no meio dos fundamentalistas que tomaram conta do PSD e do Governo. Mendes será sempre um dos beneficiários desta desastrada manobra do Governo para silenciar o ex-presidente do PSD. Desde o célebre congresso de Viseu que o país sabe que Marques Mendes sonha com a presidência do PSD. Na primeira tentativa para chegar ao cargo não teve mais de 11 por cento dos votos, e assistiu depois ao afastamento metódico dos "mendistas" levado a cabo pelos jovens turcos que rodeavam Durão Barroso. Beneficiou a seguir da vontade de Barroso de mostrar ao país um partido unido e desempenhou sem mácula um cargo feito à sua medida, o de Ministro dos Assuntos Parlamentares, depois de ter recusado a pasta da Saúde. Durante esse tempo foi recompondo discretamente a base do "mendismo" chamando para o seu lado os fiéis habituais, ou distribuindo-os estrategicamente na estrutura do partido. Ao mesmo tempo foi-se distanciando de Marcelo Rebelo de Sousa, visto por muita gente como o seu mentor, mas sem nunca cortar definitivamente os laços com o professor de Direito. A partida súbita de Durão Barroso para Bruxelas veio perturbar a sua estratégia de afirmação, colocando-o à margem das decisões no partido e no Governo. Sem Barroso, a sua saída do executivo era inevitável. Ainda esbracejou, pediu um congresso, criticou a solução dinástica, mas sem sucesso. Nos últimos dois meses andou calado, à espreita de uma oportunidade séria para fazer uma prova de vida. PSL, Portas e Rui Gomes da Silva ofereceram-lha de bandeja. E Mendes não hesitou. Ainda por cima, surge aos olhos da opinião pública como tendo feito "the right thing" ao sair em defesa de Marcelo e ao criticar o comportamento do Governo. Ao contrário de Pacheco Pereira, que será sempre um "outsider" e cujo "poder" assenta numa espécie de calvinismo partidário e mediático, Mendes deve ser levado a sério como alternativa no PSD. Conhece bem o aparelho, tem uma boa relação com as bases, pensa bem e depressa, construiu uma teia sólida de relações dentro e fora do PSD (deve ser o social-democrata com mais amigos importantes no PS) e não se lhe conhecem deslealdades públicas em relação aos chefes de circunstância. E anseia pelo poder, o que não é despiciendo. Para que a pose de estadista esteja completa só lhe falta convencer a malta do Contra-Informação a trocar-lhe o boneco. Enquanto for visto simplesmente como o "ganda nóia" será difícil chegar "lá", por muitas posições arrojadas que tome à hora dos telejornais.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.