NOVALIS: O mito da decadência é primário na cultura ocidental, tendo sido talvez Hesíodo o primeiro a esclarecer-nos. Mas revisitemos hoje um fragmento atribuído a Novalis, figura grada do círculo romântico de Jena, mais propriamente "A cristandade ou a Europa". Numa altura em que o "caso Buttiglione" ressuscitou os ratos de sacristia, que nunca respeitaram convicções alheias muito menos factos evidentes, e agoram aparecem travestidos de vítimas do pensamento, é bom reler Novalis. Inimigo acérrimo do Iluminismo, defendeu o terror Inquisicional e amou a estética subentendida na "perseguição aos heréticos"; crítico do mando das conquistas "materiais", o seu programa romântico chegou a ser aproveitado pelos puristas de extrema-esquerda nos anos 60, que nele viam uma crítica à sociedade de consumo e do espectáculo. A velha aliança entre os extremos ideológicos e os fanáticos religiosos faz-se precisamente ( como mostra Eisenstadt com o exemplo islâmico) pela recusa do presente e pela promessa de um futuro salvífico e redentor.
Um pequeno pedaço de um Novalis, representante da tal escola que "não quer nem nunca quis impôr nada a niguém" (retirado da edição de 1991 da Hiena, pp20):
(...)Era com razão que o douto soberano da Igreja se opunha a todo o insolente desenvolvimento das capacidades humanas que se fizesse à custa do sentido da santidade e atodas as descobertas inoportunas e perigosas no campo de saber. Assim, proibiu os pensadores temerários de publicamente defenderem que a Terra fosse um insignificante astro errante, pois que sabia bem que os homens, se perdessem o respeito pelo seu lar, pela sua pátria terrena, igualmente o perderiam perante a pátria celeste e perante a sua própria raça, prefeririam as limitações do saber mundano à infinitude da fé (...).
Obviamente reconheceram o "pensador temerário" que ousou defender o movimento da Terra à volta do sol. Também percebem a superioridade que representa para um fanático a "infinitude da fé" face ao "saber mundano". Que os que sempre foram intolerantes e intelectualmente desonestos, reapareçam agora a envergonhar milhões de católicos justos, inteligentes e humanistas, é lá com eles. Que não nos façam é de parvos.
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