SEGUNDO ROUND: O segundo debate entre Bush e Kerry foi um embate mais equilibrado. Bush apresentou-se com uma energia renovada, num formato que favorece a sua natural espontaneidade e descontração. Kerry foi igualmente eficaz nalguns momentos, mas deixou passar em claro algua boas oportunidades de contrariar de Bush como a menção que este fez ao relatório Druefer, uma peça particularmente crítica de algumas decisões da Adinistração. E na segunda parte deixou-se arrastar para as suas respostas complicadas que nãp permitem perceber o quepensa sobre um dado assunto.
O mais interessante no debate foi o formato. O facto de as perguntas serem efectuadas pelo público permitiu algumas questões muito bem eleaboradas e perceber quais os assuntos com que o povo americano mais se preocupa. Surgiram questões sobre as nomeações para o Supremo Tribunal de Justiça e sobre a viabilidade das promessas económicas dos candidatos.
O tom do debate foi novamente bastante elevado, apesar dos ataques políticos constantes, o que contrastou com o debate entre os candidatos a vice-presidente em que Edwards quase chamou corrupto a Cheney e este lhe atirou à cara que o senador da Carolina do Norte era o menos assíduo do Senado.
Bush várias vezes mencionou os votos de Kerry, ao longo de vinte anos no Senado, para o qualificar de liberal. E Kerry fez da relação do Presidente com a verdade e a ciência um tema recorrente.
Nó final não houve um claro vencedor mas o facto deste debate ter sido mais equilibrado que o da semana anterior, em que Kerry superou Bush, pode ter servido para remoralizar as hostes republicanas. Quarta-feira no Arizona, num debate sobre temas domésticos, teremos o tira-teimas.
Vários observadores têm notado a possível presença, nestas eleições de um fenómeno contra-intuitivo nos resultados dos debates. É consensual que a força de Bush reside na política externa, na defesa e segurança e que o melhor terreno para Kerry é a política económica e social doméstica. Esta ideia generalizada é responsável pela criação de expectativas sobre o comportamento dos candidatos em cada um dos temas em debate. O primeiro debate foi sobre politica externa e de segurança - um tema aparentemente favorável a Bush. O facto de nesse debate Kerry se ter apresentado com um discurso consistente e ter sido capaz de discutir estas questões de igual para igual com o Presidente pode ter contribuído para a sua vitória no debate. Um fenómeno contrário poderá ocorrer na próxima quarta-feira.
A gestão das expectativas é aqui levada ao paroxismo. Nos dias que antecedem os debates, cada uma das campanhas esforça-se por elogiar desbragadamente as capacidades de debatente do seu adversário, por forma a conseguir inflaccionar as expectativas relativamente ao seu comportamento. Este é um sub-produto do sucesso da carreira política de George W. Bush que foi sempre subestimado. O seu principal conselheiro Karl Rove é um reconhecido especialista em baixar as expectativas em torno do seu candidato. Como referia elegantemente Al Gore, ele próprio derrotado por esta táctica nos debates em 2000, Karl Rove e George W. Bush ... elevated the lower expectations tactic to the category of a high art.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.