TRAPOS VELHOS: A tese é velha, os actores vão-se renovando. A tese consiste em dizer que o homem europeu actual é uma pedaço de sexo atado ao estômago, descerebrado, sem convicções. Os" valores", o "acreditar em algo", a dimensão espiritual e moral, tudo está perdido neste novo homem. Freud, Nietzsche, a TV e o divórcio são alguns dos coveiros, a salvação para não se cair no niilismo passa pelo "re-acreditar" nos valores "tradicionais", e na religião.. Assim, os que criticaram Buttiglione peretencem todos a esta espécie desgraçada.
A tese é tão velha que até acusta a acreditar que vá ganhando novos seguidores. Desde o século XIX e início do século XX , que Sombart, Spengler, Dumont, os nacionalistas de Weimar ou os pré-fascistas italianos como D'Annunzio ou o social-católico Giuseppe Tonicolo (que tinha a antiga Florença como modelo), papagueiam a mesma ladainha da decadência da força, do sangue, da tradição, da alma europeia. Esta corrente anti-moderna inspirou movimentos genéticamente jacobinos ( no sentido em o mundo deve ser mudado pela acção política) como o fascismo ou o nazismo.
Nos EUA, a reacção moralista e anti-moderna apoiou-se sempre mais nas doutrinas evangélicas e por isso associou às suas batalhas a componente moral focada na sexualidade e áreas adjacentes: a leitura ortodoxa das escrituras fornecia-lhes a base que na Europa era sobretudo ideológica. Nos anos 30, o namoro do moralismo religioso ao extremismo de direita, ilustrado por figuras como o padre católico Charles Coughlin ou o evangélico Winrod, nas sólidas palavras de Seymor Martin Lipset, era impressionante. Dos tempos dos movimentos da Temperança a que Lincoln se opôs, aos dos pregadores televisivos, pouca coisa muda.
O que é curioso é verificar como na Europa dos Buttiglione se processa uma aproximação aos conteúdos moralistas americanos ( entretanto renovados) tanto quanto é inspirada nos conteúdos tradicionalmente fascistas. O desenterrar das convicções religiosas como salvação face à barbárie niilista e a luta contra o "relativismo moral" faz-se com a terra dos comportamentos privados e das regulações relacionais. A tal não será alheio porventura o desaparecimento do mundo/perigo comunista, que funcionava como bússola fiel nas horas de escolher um rumo. Já não podem dizer como o célebre senador Mccarthy, que "a grande diferença entre o nosso mundo cristão ocidental e o mundo ateísta comunista não é política (...) é moral". Se tirarmos o "comunista", a frase é elucidativamente actual acerca da confusão de planos.
Para outro post fica a defesa da ideia de que não preciso de regressar a um passado vingativo para viver com dimensão moral, com convicções e com respeito pelas tradições. Ou se regressar, prefiro regressar a Atenas ( sem escravos e com direito de voto alargado às mulheres).
Bem... acredito que a raça humana como um todo, é voltada à tecnologia. Desde os tempos das cavernas, foi ela quem assegurou nossa sobrevivência e posterior destaque em nosso mundo. Porém, acredito que existe certa degradação em relação aos valores, não apenas dos europeus, mas de todos os povos, pois o egocentrismo é praticado a tal ponto, que as pessoas tendem a se fechar em torno de suas próprias idéias, recusando o que é novo ou apenas diferente. Porém acredito que o progresso continuará, embora algumas pessoas insistam em suas visões cômodas e simplistas.
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