AINDA SOBRE OS ANJOS CAÍDOS ANTES DAS NOTÍCIAS DA NOSSA MORTE: Acho que a maioria dos leitores deste blog já se habituou a ver no meu velho amigo PC (Pedro Caeiro) o meu próprio CP (Crítico Pessoal). Desenvolve com indisfarçável gosto essa função e, geralmente, com um enorme sentido de humor com o qual tenta esconder discretamente as posições que seriamente pretende divulgar.
O problema é que o estilo utilizado o leva invariavelmente a afastar-se do cerne da questão. Este era, recorde-se, o facto do CDS não ter problemas (como nunca teve) de concorrer sozinho às eleições legislativas de 2006.
Acrescentava eu qualquer coisa de óbvio, mesmo que isso incomodasse muita gente: se o CDS concorresse em coligação, seria o alvo privilegiado das críticas da oposição; se o CDS viesse a concorrer isolado, a oposição apontaria as suas principais baterias ao PSD. Isto, o ponto fulcral do que escrevi, é de tal maneira evidente que não merece qualquer discussão e deve ter sido por isso que o meu querido PC, na costumeira CP que me oferece, preferiu cingir-se ao acessório, de todo irrelevante para o assunto.
Não me importo. Quando tenho tempo livre até gosto de discutir banalidades, vamos a elas! Convém iniciar o debate pela consciencialização de que, relativamente ao conhecimento que os membros ou simpatizantes do CDS possam ter dos seus líderes, há uma grande diferença (a nível do sujeito e significado da frase) entre o terem sido enganados e o terem-se enganado.
Por outra via, é importante frisar que talvez nenhuma das hipóteses possa ter ocorrido, pelo menos na forma como PC a descreve. Bem vistas as coisas, nos últimos cerca de trinta anos, mudaram menos os valores e as posições que o CDS defende e sempre defendeu do que mudaram os valores e as posições daqueles que o lideraram.
No caso de Freitas do Amaral, a diferença é de tal forma evidente que mereceria um estudo clínico exaustivo e, muito provavelmente, pouco esclarecedor. No que a Lucas Pires diz respeito, a verdade é que infelizmente não podemos avaliar hoje o que seria o seu pensamento (podemos no entanto supor que não estaria tão perto daquilo que o CDS sempre defendeu). No singular caso de Manuel Monteiro, o problema principal é que não conseguimos sequer aquilatar qual seja o seu pensamento actual, admitindo academicamente que exista. De todo o modo, seja ele qual for, não é seguramente o pensamento do CDS.
Dir-me-á, ufano, conhecedor e triunfante, em futura e previsível CP, o PC: "mas tu apoiaste-os a todos!..." Pois apoiei. Na altura pareciam-me os melhores. Na altura eram provavelmente os melhores. Se descontar aquele disparate da equidistância de Freitas do Amaral (com a qual nunca consegui conviver convenientemente), a fuga de Lucas Pires para o sossego das listas mais convenientes (que me decepcionou mortalmente) e o episódio burlesco e infantil da caneta do Manuel Monteiro (que me fez virar-lhe definitivamente as costas), essas eram as pessoas que lideravam o partido com que eu me identificava e com as quais me identificava. Acontece que nem eu sinto que tenha mudado nem me parece que os valores e as posições essenciais do CDS tenham mudado. Contudo, não posso dizer o mesmo dessas pessoas. Mudaram e muito. E, na minha modestíssima opinião, para pior, para muito pior.
Ter-me-ei enganado ou terei sido enganado? Julgo que nenhuma das hipóteses é verdadeira: quero crer que aquelas pessoas defenderam com seriedade e honestidade as posições e os valores do CDS na altura em que o fizeram como líderes do partido. Mais tarde, por motivos ou interesses pessoais, resolveram defender outra coisa qualquer (no caso de Lucas Pires não podemos saber qual seria e, nos casos de Freitas do Amaral e de Manuel Monteiro, curiosamente, também não conseguimos descortinar qual seja).
O que podemos ter a certeza é de que o CDS continua a defender os mesmos valores e posições e esses anteriores líderes não.
E temos uma outra certeza: é a de que esses líderes, admitindo hipoteticamente que em alguma altura tenham sido anjos, não caíram - eles limitaram-se a voar para outras bandas que lhes pareciam mais confortáveis e agradáveis. Nós não.
Post Scriptum: se PC é o meu CP generalista, João Amaral não consente qualquer crítica minha a Mário Soares. Infelizmente, João Amaral, uma vez mais, só se refere nas suas críticas ao acessório. Quanto ao essencial das minhas posições face aos disparates proferidos pelo criticado relativas às revoltas militares, João Amaral nada diz. Provavelmente porque não pode ou porque tem vergonha. Eu compreendo-o e não lhe levo a mal.
1) Noto alguma soberba nessa coisa do Crítico Pessoal. Mas, enfim, como vem aí o Natal, com suas indulgências e absolvições, adiante. 2) Admito que o teu essencial seja o meu acessório e vice-versa. 3) Agradeço-te teres disponibilizado uma parte do teu escasso e precioso (como fazes questão de lembrar sempre que discutes aqui comigo) tempo para falares de banalidades. Eu escrevo num blogue (quase) só para isso. 4) Está tudo muito certo. Mas eu continuo a desconfiar de um Partido que renega 75% dos seus líderes passados, lançando públicos e miseráveis insultos a alguns deles. Não me parece normal, que queres...?
Caro VLX, Antes de mais, o devido agradecimento pela resposta. Quanto ao essencial, temo que tenhamos, também a este respeito, entendimentos diversos. Pareceu-me que o propósito fundamental do seu post "Revoltas à Mário Soares" era o de chamar tonto ao senhor e não tanto o de analisar, questionar ou discutir o que ele disse sobre as revoltas militares. Apresento em minha defesa o facto de os dois primeiros parágrafos do post em questão tecerem considerações várias sobre a resistência física do criticado e a sua eventual tolice, o estado deplorável a que teria chegado - colocando-se mesmo à mercê das críticas do Arquitecto Saraiva - os ódios e rancores que foi acumulando ao longo da vida, os porquês desses ódios e as declarações que, há anos (alega o VLX), Soares terá feito sobre os seus apaniguados e as cadeiras do poder. Ou seja, das 548 palavras que escreveu nesse post, VLX dedicou 375 ao ataque pessoal - o acessório - e 173 às declarações de Soares sobre as revoltas militares, o principal. Dito de outra forma, dedicou ao declarante, às suas características, estados de alma e mesmo à sua família (!) mais do dobro do espaço que reservou às declarações. Afinal, o essencial, diz-me, eram as declarações e não o declarante. Lamento e peço desculpa. Erro meu. No entanto, não deixo de constatar que, no já referido post, VLX também nada diz sobre o conteúdo das declarações de Mário Soares, preferindo apelidá-las de imbecis, compará-las a soluços e não deixando mais uma vez de reiterar a sua (dele) putativa tontice a contestá-las. Sendo tão disparatadas, não lhe deveria ter sido difícil arranjar vários argumentos que desfizessem tais afirmações. Mas nem um?! Provavelmente, esqueceu-se, VLX, pois assunto não lhe faltava e não havia razão para vergonhas. Como, de resto, não há comigo. Leio sempre o que escreve e, quando não concordo consigo, digo-lho. E não tenho vergonha. Nem de uma coisa nem de outra. João Amaral
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