BANHO MARIA: Terminadas duas curtíssimas semanas de distância, regresso e noto que quase tudo continua em banho maria. Nem as novidades são, propriamente, surpresas.
1) As notícias sobre política nacional rodam à volta de uma (para mim ainda) enigmática sesta de Santana Lopes. Não me surpreenderia que o PM fizesse, ou deixasse de fazer, a sesta. Como não me surpreende que esse seja o principal motivo de excitação da vida política portuguesa.
2) O nosso Comandante já vinha avisando, de há uns tempos para cá, que a sua avançada idade não lhe permite manter o mesmo nível de vigor participativo que o imortalizou. Espera-se que o banho maria seja curto e retemperador, e que lhe restitua a vitalidade necessária para retomar, em permanência, o timão do Mar Salgado. Até lá, teremos certamente menos poesia, menos crónicas sobre a política americana e um imenso défice em matérias económicas. Hasta siempre, Comandante.
3) Em banho maria continua também a política europeia da imigração, indecisa entre o humanismo universalista que promete, herdeiro de uma cultura de tolerância cimentada com o sangue de milénios, e a tentação da fortificação exclusivista típica dos primeiros mundos. Há pormenores que são sintomas inquietantes. Quem entra hoje no aeroporto da Portela, vindo de territórios não-europeus, depara com duas plaquinhas azuis brilhantes. Numa delas, apontando para a direita, uma figura estilizada de um agente do SEF, com um uniforme obsoleto, onde se lê Todos os Passaportes / All Passports. Na outra, apontando para a esquerda, lê-se Cidadãos / Citizens - e por baixo, muito pequenino, indecifrável a 10 metros, descobre-se um símbolo com os acrónimos da União Europeia. Ontem vi um cidadão brasileiro genuinamente perplexo, olhando indeciso para a esquerda e para a direita. Tive vergonha de lhe explicar. São penas, são sinais.
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